Problema ou solução? Como o selo ‘Open to Work’ é visto em 2024

Feature criada pelo LinkedIn em julho de 2020, o selo ‘Open to Work’ chegou à rede social com um propósito: facilitar o acesso dos recrutadores a pessoas que estão à procura de trabalho. Somente no ano passado, por exemplo, em todo o mundo cerca de 28 milhões de trabalhadores utilizaram em algum momento a ferramenta em seus perfis.

Apesar da praticidade e da utilidade que envolvem o banner, desde o seu lançamento ele é foco de debates e de opiniões bastante divididas. Em uma rápida pesquisa, é fácil identificar uma enxurrada de comentários que vão desde a exaltação do mecanismo até a mais profunda desvalorização do mesmo, com pedidos para que ele jamais seja utilizado pelos profissionais que buscam emprego.

O selo é funcional?

Na prática, o selo funciona assim: ao ser ativado, o candidato pode escolher qual tipo de trabalho deseja, além de incluir informações que vão desde a disponibilidade até a localização ideal para o aceite de eventuais ofertas de vagas. É possível incluir, ainda, quais pessoas da rede poderão ou não ter acesso ao selo no perfil do usuário.

Tentar identificar o verdadeiro potencial do selo Open to Work, no entanto, é uma tarefa que caminha mais pelo espectro das opiniões do que dos fatos em si, uma vez que não há pesquisas ou registros que deem um norte sobre, por exemplo, qual é a taxa de sucesso do uso.

De acordo com Pedro Somma, CEO da Bettha, startup especializada em recrutamento e seleção por meio de Inteligência Artificial, o selo nada mais é do que um facilitador para que recrutadores identifiquem quem tende a estar mais acessível no mercado. Só que, segundo ele, isso não significa que esses profissionais terão uma vantagem nos processos seletivos.

“O selo facilita a vida do recrutador, mas não resolve o problema. O principal fator não é a disponibilidade de cada candidato e sim a falta de match (a compatibilidade entre candidato e vaga). O selo permite que candidatos sinalizem que estão procurando emprego e que recrutadores achem, mas não significa ser contratado”, diz.

O executivo acrescenta que o cuidado do profissional com o seu perfil na plataforma é uma diferencial, já que o selo não funcionará se o candidato não construir um perfil que seja atrativo a quem o visita.

“Um perfil de Linkedin ideal é aquele que conta uma boa história, falando sobre interesses e competências de cada candidato, além de aproveitar a página para se descrever, sendo transparente e objetivo. Mais do que uma rede de currículos, o LinkedIn é uma rede para trocas e um espaço para conexões”.

Prós e contras

Em live realizada no LinkedIn, Mariana Torres, uma das maiores influenciadoras de RH da América Latina, pontuou que a “não aceitação porque há o selo Open to Work no perfil”, um dos principais estigmas em torno da ferramenta, uma vez que muitos usuários da plataforma afirmam que são rejeitados por recrutadores por conta do banner, “já caiu por terra”. Além disso, ela explicou que a ferramenta é, sim, vantajosa para quem não está trabalhando.

“Tem algumas vagas que são super imediatas. Eu, então, darei preferência a quem não está trabalhando. E uma forma de agilizar o meu trabalho é ir direto em quem tem o selo ‘Open to Work’. Vocês podem pensar que não, mas o recrutador tem dificuldade em ter retorno no LinkedIn. Às vezes manda mensagem, mas a pessoa não responde ou não usa a rede. Quando há o selo, a ação é mais certeira”, contou.

Para Carol Oliveira, profissional que atua há mais de 10 anos com recrutamento e seleção, “embora o LinkedIn seja muito funcional para encontrar bons candidatos – não à toa há também o selo ‘hiring’, usado pelos recrutadores para mostrar aos candidatos que estão contratando –, existem excessos.

“Já cheguei a receber, em um único dia, centenas de pedidos de conexão e mensagens de pessoas que encontraram uma vaga na plataforma. Obviamente não dei conta de aceitar ou responder a todos. Alguns dias depois, fui citada em um perfil como parte do grupo de recrutadores que ‘desprezam candidatos open to work’. A publicação teve centenas de curtidas. Entendo que muitas pessoas estão desesperadas e precisam de uma rápida recolocação, mas às vezes é impossível dar atenção ou feedback a todos que te procuram”, salienta. “Hoje estou com meu perfil na rede desativado e só o utilizo em momentos estratégicos”, acrescenta.

A recrutadora destaca, ainda, que embora haja a compreensão de que os candidatos tenham total poder de escolha em relação às vagas que desejam, principalmente quando estão desempregados, a candidatura em oportunidades distantes de seus respectivos perfis só contribuem para que a procura seja ainda mais difícil para eles.

Quando suas habilidades, localização, experiência ou afins não batem com as pedidas pela vaga, o natural é que você não compita efetivamente por elas. A preferência será dada para quem tem mais atributos compatíveis com a oportunidade. Você, então, se candidata a muitas vagas, não tem retorno, não se conecta com o recrutador porque ele identifica que seu perfil não atende às propostas em aberto, e isso acaba aumentando sentimentos e sensações ruins como o desespero, a frustração”, explica.

Carol finaliza elucidando que quando há um problema, normalmente ele não está no selo em si, mas na usabilidade do LinkedIn por parte do candidato. Ela recomenda que colaboradores que estão trabalhando não utilizem o selo e, do mesmo modo, dá a dica para que haja cuidado com a postura na plataforma de empregos.

O maior pró do selo pode ser também a sua maior desvantagem: o aumento da exposição. Se você cultiva bons relacionamentos, tem um perfil bem construído, sabe ‘se vender bem’, o selo é um acelerador. Agora, se você entrar na linha de se sentir perseguido, de criticar injustamente recrutadores, de não ter um perfil minimamente bem montado, não há selo que vá resolver”.

 

Fonte: RH Pra Você, por Bruno Piai