O Ministério da Saúde anunciou um programa para reduzir a espera por cirurgias eletivas, exames e consultas. No Estado de São Paulo são mais de 110 mil pacientes na fila. As cirurgias eletivas são procedimentos já marcados e sem urgência. A demora provoca sofrimento e pode complicar o estado de saúde de quem espera.
Faz quase seis meses que Celso Ribeiro Mendes está aguardando uma cirurgia para a retirada de uma pedra na bexiga. Dona Fátima Aparecida Mendes, esposa dele, conta que o marido chegou a ficar internado no Hospital Luzia de Pinho Mello, mas foi liberado porque não era um caso grave. Ele foi encaminhado ao Ambulatório Médico de Especialidades (AME) da rede estadual.
“Fizeram o exame, tudo, ok. Sem problema nenhum. Aí ele guardou o exame, a médica chamou para ver o exame. Aí falou para ele que, como apareceu aquela pedra, naquele lugar da bexiga, ele precisaria de uma cirurgia. Isso em setembro do ano passado”, diz a costureira.
Sem retorno do AME e sentindo muitas dores, Celso resolveu procurar a unidade para questionar a demora na cirurgia.
“Cheguei na recepção, a moça pegou o meu documento e falou: ‘Seu Celso, o senhor está de alta’. Eu falei ‘Não moça, não é possível. Eu estou esperando a resposta da médica para eu fazer a cirurgia, né?’. Daí ela falou assim: ‘Eu vou ligar para lá, pro sistema, e vou agendar para o senhor fazer os exames de novo. Você vai ter que ir pro Hospital São Paulo, em São Paulo'”, diz.
Por enquanto, o soldador precisa conviver com a dor. “Só Buscopan, remédios caseiros. Eu estava trabalhando e até parei. Estou ajudando ela aqui com a costura”, afirma o soldador.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 1 milhão de pessoas estão na fila do Sistema Único de Saúde para a realização de cirurgias eletivas, que são procedimentos já marcados e sem urgência. Um novo programa do governo federal pretende reduzir a espera por cirurgias, exames e consultas na rede pública de saúde.
Desde março, o Ministério da Saúde iniciou a transferência de dinheiro para que estados e municípios possam realizar mutirões de atendimentos. São 200 milhões apenas para desafogar a fila de cirurgias eletivas.
O advogado Danilo Nascimento Savido perdeu o pai há dois meses. Segundo a família, o idoso de 82 anos quebrou o fêmur em 2018. Ele chegou a colocar prótese, mas precisou refazer a cirurgia, que só foi realizada em 2021.
“Durante a pandemia ele começou a se queixar muito de dores. Levávamos ele para o hospital, só que devido à pandemia – meu pai já estava com a idade bem avançada, quando ele quebrou o fêmur estava com 78 anos – e falaram: ‘Olha, ele vai contrair Covid muito facilmente, então nem vamos fazer o atendimento’. Só que assim, a dor dele começou a aumentar tanto, que ele não conseguia mais andar, não conseguia mais fazer nada. Nós insistimos muito no atendimento e, quando finalmente conseguimos, foi constatado que a prótese do fêmur estava raspando na bacia a ponto de esfarelar. Mas mesmo assim a gente não conseguiu a cirurgia com facilidade. Muito pelo contrário, a gente insistiu muito mesmo. Você vê, ele teve o fêmur quebrado em 2018 e só conseguiu ter a cirurgia em janeiro de 2022. Foram praticamente quatro anos para conseguir a cirurgia para ele”.
Depois da operação, vieram várias complicações. Para o filho, a morte do pai tem relação com a demora no procedimento. Ele questiona o novo programa do governo, que, para ele, não deveria ser só para as eletivas.
“O Estado tem que investir muito nesta questão da saúde? Tem, mas não visando apenas questões pequenas. Tem situações absurdamente graves que o Estado está negligenciando. O caso do meu pai foi um deles. A gente tem certeza, se meu pai tivesse conseguido essa cirurgia com mais celeridade, meu pai estaria aqui até hoje”, lamenta.
Fonte: G1