O mercado de saúde no Brasil: desafios e potencial de crescimento

O mercado de saúde no Brasil, apesar do momento desafiador que enfrenta, apresenta um grande potencial de crescimento e consolidação no setor privado a médio e longo prazo. O setor privado responde por aproximadamente 60% do investimento em saúde no país, refletindo a crescente participação do mercado de planos de saúde médico-hospitalares e serviços hospitalares privados. Em comparação com outros países, como os Estados Unidos — que lideram os gastos em saúde, representando 16% do PIB, com mais de 80% do valor vindo do setor privado — o Brasil ainda apresenta uma cobertura privada restrita.

O setor de saúde no Brasil é fortemente influenciado pela crescente base demográfica e pelo envelhecimento acelerado da população. O mercado de planos de saúde no Brasil é estimado em cerca de R$ 520 bilhões, com uma taxa de cobertura de aproximadamente 26% da população. Isso demonstra um grande potencial de crescimento, especialmente se houver uma maior oferta de emprego formal e uma melhora no panorama econômico do país. No entanto, o Brasil enfrenta um déficit significativo de leitos privados, estimado em mais de 10 mil, o que torna o mercado hospitalar subpenetrado.

As três maiores redes hospitalares do Brasil — Rede D’OrHapvida e Dasa — controlam cerca de 20% dos leitos privados, o que indica um grande potencial de consolidação no setor. Segundo Fernando Kunzel, sócio da JGP Financial Advisory, “o mercado hospitalar é concentrado em grandes centros urbanos, mas há oportunidades interessantes no interior de grandes estados. A médio prazo, após o cenário desafiador que o setor enfrenta, acreditamos que as aquisições devem acelerar, embora com valuations mais realistas.”

O setor de saúde no Brasil tem enfrentado desafios econômicos significativos nos últimos anos, especialmente no período pós-pandemia. Esse cenário resulta de uma combinação de fatores que pressionaram as operadoras de planos de saúde e, consequentemente, seus prestadores. A demanda reprimida por exames, que havia sido represada durante o pico da pandemia, gerou um aumento expressivo na quantidade de atendimentos e exames realizados, o que pressionou ainda mais as operadoras e os hospitais.

De acordo com William May, também sócio da JGP Financial Advisory, a elevação da taxa Selic de 3% para 13,75% impactou consideravelmente as empresas do setor que se alavancaram durante o período de Selic baixa. Segundo ele, essas empresas estão agora tendo que olhar para “dentro” de suas operações e buscar uma desalavancagem. Após esse período de ajustes, o mercado deve retomar as consolidações.

De acordo com um estudo da JGP Financial Advisory, o número de operações de M&A no setor hospitalar caiu drasticamente em 2023. Enquanto em 2020 e 2021 ocorreram 25 e 32 aquisições, respectivamente, em 2023 o número de transações foi reduzido para apenas 3.

Porém, Fernando Kunzel afirma que, em 2024, alguns movimentos de M&A no setor já voltaram a acontecer, como a fusão entre os hospitais da Amil e Dasa, a criação de uma joint venture (JV) entre a Rede D’Or e o Bradesco para projetos greenfield, com investimentos da ordem de R$ 1,1 bilhão, e aquisições realizadas pela Aliança no setor de imagem. “Entendemos que os movimentos nesse momento foram muito mais estratégicos e oportunistas, mas acreditamos que, em um setor tão resiliente como o da saúde, ainda falaremos muito sobre consolidações e aquisições”, afirma Kunzel.

Kunzel conclui que o setor de saúde no Brasil está passando por um período de ajustes estruturais, com grandes consolidações e reconfigurações no horizonte. “Isso pode criar novas oportunidades, mas também impor desafios financeiros e operacionais para os envolvidos”, conclui.

 

Fonte: Medicina S.A.