Conheça resultados que instituições alcançaram depois de acreditadas, inclusive no setor público, e saiba como ir além.
A tecnologia está redefinindo a acreditação hospitalar, integrando inteligência artificial, análise de dados e plataformas digitais para elevar a qualidade e segurança no atendimento. Enquanto hospitais privados avançam na implementação de soluções digitais, os hospitais públicos enfrentam o desafio de equilibrar recursos limitados com a necessidade crescente de modernização.
Essa jornada digital contínua, que transforma a acreditação em um processo proativo e automatizado, aponta para um futuro em que tanto o setor privado quanto o público podem alcançar novos patamares de excelência, com foco em um cuidado mais seguro, eficiente e acessível.
Essas tecnologias têm o potencial de otimizar cada etapa da busca pela acreditação, desde a preparação inicial até o monitoramento contínuo e a reavaliação dos processos. Não apenas melhoram a eficiência operacional das instituições de saúde como também contribuem para a qualidade do atendimento ao paciente A integração de plataformas digitais para o gerenciamento de pacientes e a coordenação de cuidados facilitou a conformidade com os padrões de acreditação.
O principal benefício das tecnologias está na sua capacidade de identificar, de forma precisa e proativa, áreas que necessitam de melhorias, além de garantir conformidade em tempo real com os padrões de acreditação, segundo Ana Carla Parra Labigalini Restituti, co-fundadora e diretora de acreditação e educação da Infinity Accreditation Healthcare, instituição credenciada pela Organização Nacional de Acreditação (ONA).
“Em vez de ciclos de avaliação pontuais, essas ferramentas permitem um monitoramento contínuo e automatizado, trazendo agilidade ao processo e ampliando o impacto da acreditação nas operações diárias das organizações de saúde.”
Claudio Giulliano, CEO da Folks, afirma que as novas tecnologias digitais têm contribuído significativamente para que os processos de qualidade e segurança sejam implementados na prática, colaborando para que o processo se torne uma jornada digital, com mecanismos automatizados de controle e geração automática de dados para que o gestor possa realizar uma melhoria contínua.
“A integração de soluções digitais permite que as instituições de saúde não apenas atendam aos requisitos, mas superem expectativas, alcançando níveis excepcionais de excelência”, diz Ana Carla.
Segundo Giulliano, os hospitais mais digitais possuem maior facilidade de atender às exigências das principais acreditações do mercado. Ele comenta que em alguns estudos, realizados por meio do índice de maturidade digital da Folks, foi possível observar uma correlação estatística positiva entre alto nível de maturidade digital e certificações/acreditações na área de saúde.
Sustentabilidade e atendimento humanizado
No cenário atual da saúde, o conceito de excelência tem evoluído, com a inclusão de critérios que vão além da qualidade técnica e segurança. Sustentabilidade, cuidado centrado no paciente e respeito aos seus direitos sempre foram requisitos dentro de um órgão de acreditação. Porém, a evolução da participação dos pacientes, no sistema de saúde, tornou esses critérios pilares da acreditação. Essa mudança reflete a necessidade de um sistema de saúde, que equilibre alta performance assistencial e responsabilidade ambiental.
Giulliano comenta que muitas acreditações estão trazendo requisitos para avaliar se as instituições estão, de fato, desempenhando essas ações. “No âmbito da certificação da HIMSS, há uma categoria específica sobre patient engagement. Essa categoria avalia como a tecnologia da informação está ajudando no atendimento ao paciente, tanto do ponto de vista operacional como assistencial, visando uma jornada digital do paciente”, enfatiza.
Selos de acreditação: resultados práticos
A acreditação não é apenas um reconhecimento de conformidade, mas um instrumento de transformação cultural nas instituições de saúde. É um recurso capaz de promover mudança de mentalidade, incentivando uma cultura organizacional voltada para a segurança, a qualidade e a melhoria contínua. Ao exigir uma abordagem estruturada para a gestão de processos e riscos, a acreditação fortalece a capacidade das organizações de antecipar problemas, corrigir falhas e implementar soluções inovadoras, o que, em última instância, eleva o nível de assistência oferecido aos pacientes.
Hospitais acreditados apresentam melhor desempenho em vários aspectos, incluindo tempo de espera reduzido e melhor gestão de recursos, de acordo com estudo realizado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB).
Dados indicam que instituições acreditadas aplicam práticas de segurança capazes de reduzir significativamente eventos adversos relacionados a medicações e cirurgias. “Em alguns casos, foi observada uma redução de até 30% nas taxas de quedas de pacientes, enquanto os erros de medicação caíram em até 50%, após a implementação de processos de segurança padronizados, como a identificação de medicamentos com fonética semelhantes, uso de abreviações perigosas e a segurança no uso de medicamentos de alto risco”, cita Ana Carla.
Como a acreditação traz melhores resultados em instituições públicas de saúde
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), em seus vários institutos, possui algumas das principais acreditações e certificações com foco na melhoria contínua.
Silvia Takanohashi Kobayashi, chefe de gabinete da Superintendência do hospital, conta que os processos de acreditação nos Institutos HCFMUSP trouxeram benefícios, como:
- Melhoria do gerenciamento da organização;
- Aumento da qualidade da assistência prestada;
- Garantia de reconhecimento público;
- Padronização dos processos e adoção de padrões de trabalho embasados e controlados;
- Consolidação da cultura de segurança e da cultura justa;
- Alteração no comportamento e maior envolvimento das equipes profissionais de saúde.
O HCFMUSP realiza o acompanhamento de seus diversos processos (principais, de apoio e de gestão) por meio de controles e indicadores. Os dados obtidos nas atividades são trabalhados e estas informações municiam análises, avaliações e tomadas de decisão nos mais variados níveis de gestão (estratégico, tático e operacional).
O processo para obter a acreditação é mais desafiador para uma instituição pública? Silvia diz que a administração de organizações públicas já traz, em si, inúmeros desafios. “Nosso primeiro desafio é o tamanho da nossa estrutura representado na assistência, por exemplo, por uma demanda muito grande de problemas de saúde de alta complexidade, aliado a orçamentos limitados. Isso exige maior eficiência na utilização dos recursos e mais eficácia nos resultados de inúmeros processos”, explica.
O Hospital Pequeno Príncipe é uma instituição filantrópica – com 60% dos atendimentos via SUS – que tem experiência semelhante. São vários os resultados que demonstram melhorias, tanto no processo de segurança como também na redução de desperdícios, segundo Fábio Motta, médico e vice-diretor de Qualidade e Pesquisa Clínica do Hospital.
Ele cita a segurança da cadeia medicamentosa, ponto muito sensível dentro da pediatria, como exemplo. Qualquer hospital que trabalhe com processos pediátricos deve estar atento a esse processo, pelos riscos inerentes. A variação de dose na pediatria é muito maior do que a variação no adulto; as doses são pequenas, prescritas em miligramas por quilo e isso aumenta o risco de erro.
“Desde o início do processo de acreditação, trabalhamos com foco na melhoria da segurança da cadeia medicamentosa a partir de novos protocolos. Essa estratégia também possibilitou uma diminuição de gastos e desperdícios. Além disso, promovemos o uso racional de antimicrobianos, que evita o uso desnecessário ou equivocado, reduzindo o tempo de administração do medicamento, visando maior controle no avanço da resistência a esses fármacos”, conta Motta.
Na opinião do médico, o processo de acreditação tem a capacidade de formalizar e chancelar o nível de excelência de uma instituição. “Hoje, pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), alcançamos o nível mais alto de excelência e, sem dúvidas, isso acaba tendo um impacto importante no reconhecimento nacional e internacional do Pequeno Príncipe. Os resultados de excelência construídos no processo de acreditação contribuem para manter a reputação do Hospital”, pontua.
A instituição também usa tecnologias para melhorar a gestão, em especial no monitoramento dos padrões de qualidade. O desenvolvimento de um sistema de alertas criado a partir de dados provenientes do prontuário eletrônico do paciente é um exemplo concreto. O sistema funciona por meio de painéis de gestão clínica, que permitem às equipes acompanharem e tomarem decisões em relação à mudança de processos.
“Desenvolvidas internamente, ferramentas como essa têm um grande impacto na conquista e na manutenção do selo de acreditação. Os recursos foram fundamentais para que conseguíssemos monitorar os padrões de qualidade e segurança. Essa rotina consolidada na tecnologia faz com que possamos avançar em inovações a cada ciclo de avaliação”, ressalta.
Hospitais privados e o ganho da credibilidade
O Hospital Moinhos de Vento é acreditado, desde 2002, pela Joint Commission International (JCI). A acreditação internacional foi aplicada a todas as unidades da instituição.
Vania Röhsig, superintendente Assistencial e de Educação do Moinhos de Vento, explica que a acreditação melhorou a qualidade dos processos, embora pontos como eficiência sejam sempre mais difíceis de serem medidos. “A principal mudança se chama ‘tempo-sensível’, quando medimos o intervalo de tempo daquilo que é sensível para a saúde do paciente, como o tempo entre um infarto ou um acidente vascular cerebral, e o atendimento. Os nossos tempos melhoraram muito e vão todos além dos vistos na prática mundial”, explica.
Ela destaca o aprimoramento dos processos, a garantia de segurança, a adoção de padrões como os principais impactos da acreditação na rotina do hospital. São características que promovem a melhor entrega no cuidado e, de forma geral, na instituição: a garantia da qualidade dos profissionais, do processo de informação e de validação dos diplomas.
Já no Hospital Sírio-Libanês, as acreditações representam um reconhecimento ao trabalho desempenhado pelas equipes todos os dias. “Isso traz confiança a médicos e pacientes no momento da escolha pelo nosso hospital”, opina Carla Bernardes Ledo, gerente de Qualidade da instituição.
Ela conta que o hospital foi o primeiro centro médico privado brasileiro a receber a acreditação Commission on Accreditation of Rehabilitation Facilities (CARF), que reconhece a qualidade dos programas de reabilitação oferecidos por diferentes instituições.
“Com isso, o hospital tem conseguido garantir o direito de ir e vir, com segurança, conforto e autonomia, pelo mais amplo espectro de usuários, incluindo crianças, idosos e pessoas com limitações temporárias ou permanentes”, afirma Carla.
Outra experiência de como a acreditação tem mudado os rumos da gestão das instituições de saúde é a do Grupo Fleury, tanto na área diagnóstica quanto hospitalar, com o Hospital Saha.
“Em 2018, iniciamos o processo para acreditação da ONA. Os resultados foram visíveis e incluem desde mudanças no nível de comprometimento de todos os colaboradores até a implantação de uma cultura de otimização diária dos processos”, conta Daniel Szor, gerente médico do Hospital Saha, marca do Grupo Fleury.
Do ponto de vista da equipe médica, a acreditação trouxe processos mais estruturados, como a avaliação regular do corpo clínico a cada seis meses, o que antes era realizado de maneira informal. “Também passamos a desenvolver atividades de integração com as equipes mensalmente. Essas ações refletiram na melhoria do atendimento, que passou a ser mais otimizado.”
Na área laboratorial, as acreditações, tanto a ONA quanto as específicas para laboratórios, como o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC) e a acreditação DICQ (Sistema Nacional de Acreditação), se complementaram no Grupo Fleury.
Daniel Périgo, gerente sênior de ESG do Grupo, conta que as duas últimas possuem um foco maior na qualidade técnica dos processos, enquanto a ONA agregou a visão assistencial e de segurança do paciente nos processos.
Entre os resultados observados, Périgo destaca a melhoria da qualidade técnica dos processos, o que inclui uma nova visão sobre como as falhas são identificadas e tratadas, além da redução de desperdício e de retrabalho.
Sobre o impacto das tecnologias na conquista dos selos de acreditação, Périgo destaca que os benefícios trazidos pelas tecnologias, como maior agilidade no diagnóstico, redução da intervenção manual e o direcionamento das pessoas para atividades que agreguem mais valor na otimização de processos, ajudaram a instituição a focar na necessidade do paciente e na qualidade técnica. Melhorou o atendimento e, na ponta, contribuiu para a obtenção da acreditação.
Fonte: Saúde Business