O Ministério da Saúde começou a distribuir seis mil testes rápidos de malária dentro de seis regiões na Terra Indígena Yanomami. O trabalho faz parte das ações emergenciais diante da grave crise humanitária no território, que é o maior do país.
A expectativa é que o número de testes seja usado durante dez dias de ações dos agentes de saúde, com a entrega de novos kits a partir do envio de novos profissionais da Força Nacional do SUS. Além disso, o envio de remédios para o tratamento da doença ocorre de forma contínua.
“Foram definidos os pontos iniciais em que haverá o uso dos testes. Serão eles: Auaris, Surucucu, Missão Catrimani, Maloca Paapiú, Kataroa e Waphuta”, informou o enfermeiro e responsável pelo núcleo 5 de combate a doenças em eliminação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, Alex Bauman.
O especialista explica que o plano foi elaborado pelo Centro de Operações de Emergência (COE) Yanomami, devido a importância de se diagnosticar rapidamente os casos de contaminação.
“Os testes rápidos foram escolhidos devido a facilidade de uso e o peso – sendo mais leve, é mais fácil viabilizar o envio para as áreas remotas”, pontua.
Ponto de apoio do Programa Nacional de Prevenção e Combate da Malária (PNCM), Brenda Coelho explica que os testes serão usados em 100% da população dos pontos definidos no Plano.
“Mesmo os pacientes assintomáticos serão testados. Assim teremos uma análise mais precisa da situação nas aldeias. E o teste é simples: o agente coleta uma gota de sangue do paciente e utiliza um reagente para identificar a doença”, conta.
No entanto, nos casos de pacientes com recaída no tratamento de malária, também será possível realizar o teste da gota espessa. “Esse é o teste padrão ouro em nível nacional, ele é mais específico nos resultados, com o número, por exemplo, de parasitas gametócitos”, explicou.
A malária é uma das principais doenças registradas no território Yanomami, entre adultos e crianças. A doença agrava quadros de desnutrição entre todos. Em 2022, ao todo, foram registrados 12.261 entre os Yanomami. Destes, as crianças foram as que mais sofreram, já que a faixa etária mais atingida foi entre 0 e 9 anos de idade, que totalizaram 5.799 casos registrados.
O maior número de casos foi o de 2.387, registrados entre bebês com menos de 1 ano e crianças Yanomami de até 4 anos de idade. A segunda faixa etária mais atingida foi a de jovens entre 10 e 19 anos, no total, 2.984 casos foram registrados nesta população.
Os dados são do Relatório Missão Yanomami, publicado em janeiro de 2023 pelo Ministério da Saúde do Governo Federal.
Emergência no território
Em visita à região Missão Catrimani, o secretário de Saúde Indígena (Sesai), Ricardo Weibe Tapeba, destacou a importância de se garantir infraestrutura e equipamentos aos agentes e indígenas alocados.
O titular da pasta visitou a região na última quarta-feira (8) e apresentou a urgência na solução dos atendimentos.
“Em geral, o polo de saúde apresenta boas condições, mas é necessário intervenções na parte de logística. É uma preocupação, também, o cenário das comunidades próximas”, observou. Segundo os profissionais do local, uma das comunidades não recebe visita de agentes de saúde há mais de um ano, devido a falta de estrutura para acesso.
Weibe detalha que as demandas da região são para que se tenha telefone, internet para comunicação, infraestrutura, insumos e equipamentos.
“As equipes são bem engajadas no território todo, mas relatam a falta de lâminas para os testes e monitoramento da malária, por exemplo. E a doença é uma grande demanda da região”, pontuou.
Situação Yanomami
A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.
A presença do garimpo, principalmente nos últimos quatro anos, na gestão de Jair Bolsonaro, provocou a disseminação de doenças, levando a um cenário de crise humanitária.
Por isso, a região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e inicialmente por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.
O Ministério da Saúde afirma que a gestão de Bolsonaro (PL) não cumpriu solicitações para atender os indígenas doentes nas comunidades e estima que 570 crianças morreram de causas evitáveis nos últimos quatro anos.
Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, há 22 suspeitas de omissões do governo anterior no combate à tragédia Yanomami.
O Supremo Tribunal Federal apura se o governo Bolsonaro prestou informações falsas sobre assistências oferecidas ao povo Yanomami. O ministro Luís Roberto Barroso determinou que autoridades sejam investigadas por suspeita de crime de genocídio.
Fonte: G1