A situação é crítica nos hospitais filantrópicos do estado de São Paulo. Medicamentos usados para intubar pacientes estão no fim. Em alguns, o estoque é suficiente para quatro dias.
Onde falta remédio, sobra preocupação. “Esse é o nosso armário de sedativos. Em uma situação normal ele estaria repleto com caixas de medicação. Na medida que esses remédios acabarem, o suporte de vida para esses pacientes vai se tornar impossível”, destaca o infectologista Roberto Muniz Júnior.
O que tem só dura até domingo (4). Para economizar medicamento, o hospital fechou cinco dos 30 leitos de UTI.
Nos hospitais filantrópicos de São Paulo, os estoques de remédios fundamentais para controlar a dor, sedar e relaxar a musculatura estão chegando ao fim. “Hoje temos um número alto de pacientes intubados nas UTIs com Covid, que necessitam da medicação que está limitada”, destaca farmacêutica.
A ameaça é para todos os pacientes intubados – seja por causa da Covid ou não. “Quando você não tem a utilização dos medicamentos adequados, esse paciente, com uma comutação de medicamentos, você pode acabar gerando um desconforto, você pode acabar causando dor. Principalmente há uma luta do paciente. Uma vez que ele vai despertando, ele vai tendo – vamos dizer assim – uma briga entre o respirador e isso traz um desconforto enorme. Sendo que a falta desse medicamento de forma objetiva, no processo de manutenção da intubação, pode levar os pacientes, infelizmente, à morte”, explica Rogério Bartkevicius, diretor-geral da Santa Casa de Araraquara.
O secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, que já admitiu que foi necessário trocar alguns medicamentos, disse que o estado está negociando com o Ministério da Saúde enquanto faz compras de emergência: “Nós estamos fazendo compras emergenciais, recebemos mais medicamentos. O que nos garante um aporte para os nossos hospitais da direta por mais sete dias, mas nós também estamos acolhendo as necessidades dos municípios”.
O estado de São Paulo tem 400 hospitais filantrópicos e santas casas, que são as únicas instituições de saúde em cerca de um terço dos municípios paulistas. Com os estoques no limite, a dificuldade de reposição passa não só pela falta dos medicamentos no mercado, mas também pelos preços.
O presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do estado, Edson Rogatti, cita alguns medicamentos que sofreram reajuste: “O Atracur pagava R$ 14,30, agora tá pagando R$ 69. O Propofol 20 ml pagava R$ 13,10, tá pagando R$ 33,40. O Fentanila 10 ml pagava R$ 5,10, agora custando R$ 10,50. Isso de dezembro para cá”.
O especialista Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV, que já trabalhou no Ministério da Saúde no planejamento de compras, explica que os gestores públicos precisam tomar a frente para garantir o abastecimento dos hospitais.
“Os hospitais são contratados para uma determinada produção, eles se planejam de acordo com essa produção. Então, o que que nós estamos vivendo nesse momento? Um grande aumento de demanda, que tem gerado uma falta de capacidade de resposta. É fundamental nós termos uma gestão de crise nesse momento, em que os gestores do sistema de saúde em âmbito municipal, estadual e federal façam o acompanhamento da real situação e tomem medidas para dar suporte aos prestadores”, acredita.
“Não basta ter UTI, a dificuldade com os profissionais de saúde que já estão esgotados, que já estão cansados, a gente ainda, infelizmente, tem que enfrentar essa situação de um desabastecimento que afeta a qualidade do tratamento do paciente, o conforto do paciente, e na última linha, podendo o paciente ir a óbito pela falta dos medicamentos”, lamenta o diretor da Santa Casa de Araraquara.
Nesta quinta, o governo de São Paulo declarou que está fazendo constantes cobranças ao Ministério da Saúde para auxílio no fornecimento de medicamentos para intubação, mas que, desde o último fim de semana, o governo federal liberou apenas 6% do que é preciso para atender a demanda mensal da rede pública de saúde do estado.
O Ministério da Saúde afirmou que fechou diversos acordos nos últimos dias para tentar evitar o desabastecimento de medicamentos para intubação. Segundo o ministério, os acordos respeitam a realidade de cada fabricante, os contratos anteriores e a necessidade do país.
O ministério explicou ainda que a distribuição é feita de acordo com o consumo médio mensal informado pelas secretarias estaduais de Saúde ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e que as entregas já começaram e devem se estender nos próximos dias.
Fonte: Jornal Nacional