Sidney Klajner e Virgílio Gibbon são porta-vozes do ODS 3 – Saúde e Bem-Estar, um dos 17 objetivos estabelecidos pela Agenda 2030 da ONU
Nos próximos dias parte dos líderes globais estará reunida em Nova Iorque para a realização da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Na esteira do encontro, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil promoverá em 19 e 20 de setembro o SDGs in Brazil 2024, principal evento brasileiro de sustentabilidade corporativa no exterior, que discutirá o progresso das organizações em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O evento brasileiro também marcará o lançamento do Relatório Ambição 2030, que detalha uma estratégia com dez iniciativas para acelerar as metas da Agenda 2030.
Criados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, os ODS representam uma parceria global para promover o desenvolvimento sustentável, impulsionada por políticas e ações. O objetivo é, até 2030, envolver empresas e organizações na adoção de 17 metas fundamentais em direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. No entanto, a realização de todas essas metas até 2030 permanece incerta. Em junho, o Relatório sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2024 revelou que menos de um quinto das metas (17%) está avançando conforme o esperado. Quase metade delas apresenta progresso mínimo ou moderado. No Brasil, apenas 7% das metas tiveram progresso satisfatório, conforme o Relatório Luz, publicado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030.
Para impulsionar o avanço, o Pacto Global criou o programa Liderança com Impacto. O objetivo é reunir CEOs e lideranças de organizações de grande porte e com potencial de engajamento para se tornarem uma espécie de embaixadores de seus respectivos temas em seus países. Para serem escolhidos, as empresas inscrevem seus líderes e, com base em diversos critérios, o Pacto Global oficializa o convite. No Brasil, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 3 (Saúde e Bem-Estar) possui atualmente quatro representes: Gustavo Estrella, presidente do Grupo CPFL Energia, Ronaldo Ribeiro, CEO da Farmax, Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, e Virgílio Gibbon, CEO da Afya.
Como porta-vozes dessas ações e metas, a ideia é que eles utilizem sua influência para promover o ODS 3, destacando boas práticas em eventos, entrevistas e redes sociais para alcançar uma ampla audiência. “Temos feito um trabalho de tentar engajar as organizações para ter um objetivo comum porque ações colaborativas funcionam melhor. As organizações que, de fato, têm o seu propósito falar de saúde, não podem fugir desse tema que vai causar um impacto importante na saúde da população em geral”, afirma Klajner. “Não apenas onde o Einstein pode chegar, mas onde o setor da saúde pode avançar, chamando a atenção para a questão do acesso. Esse não é um trabalho de uma pessoa ou de uma organização. É um trabalho do mundo, de todos aqueles que estão envolvidos de fato com saúde”. Klajner defende que o acesso à saúde de qualidade para todos é essencial, especialmente considerando que as mudanças climáticas impactarão diretamente a saúde.
Para Gibbon, da Afya, esse compromisso é uma chance de traçar novas direções e continuar transformando as regiões onde a empresa atua. Com cerca de 70% das suas instituições de ensino superior localizadas no Norte e Nordeste do Brasil, a Afya está focada em melhorar a qualidade de vida nas comunidades locais e promover o desenvolvimento regional, enfrentando os desafios específicos dessas áreas. “As regionalizações são completamente diferentes. Sem dados, não vamos conseguir ser eficientes. Podemos ser uma boa alavanca que está de portas abertas para poder ajudar a melhorar toda a parte de serviço de saúde no país”, explica.
Compromissos e desafios com os ODS
Com a meta de unir empresas em torno de uma visão compartilhada de sustentabilidade, visando um futuro viável, justo e inclusivo para todos, a adesão ao programa exige que as empresas cumpram diversos critérios, incluindo engajamento, integridade e compromisso com os ODS. Atualmente, o programa conta com 35 líderes de setores variados.
Mas mobilizar diferentes setores, engajar equipes e acompanhar projetos à distância são desafios significativos. Por isso, a colaboração e o envolvimento dos líderes são essenciais para ampliar o impacto coletivo e avançar na promoção de uma transformação mais profunda e abrangente na sociedade. Essa colaboração não só reforça o compromisso individual das organizações com os ODS, mas também potencializa o impacto coletivo, catalisando mudanças mais significativas e abrangentes. “Existem muitos desafios. Um deles é a própria influência do clima, de alteração climática, catástrofes e desastres”, declarou o presidente do Einstein. Segundo ele, nenhum sistema de saúde está preparado hoje para lidar com isso.
De acordo com Klajner, um exemplo é que é preciso mapear situações como o surto de dengue, que levou à falta de soros em alguns municípios. Ele defende que os sistemas de saúde e as organizações devem se preparar adequadamente e focar na gestão dessas situações. “Porque catástrofes e desastres ambientais ainda vão acontecer e prejudicar a produção de alimentos, causar infecções pela má qualidade da água. Quem sofre são geralmente as populações mais vulneráveis”, esclarece.
A equidade e respectiva redução de disparidades no acesso também tem sido um foco do Einstein nos últimos anos. “Temos a obrigação, quando falamos em equidade em saúde, em falar de acesso”, defende.
Tecnologia para superar os gargalos regionais
Tecnologias como telemedicina e inteligência artificial estão facilitando o acesso a cuidados médicos especializados, mas é fundamental criar conexões entre diferentes áreas – desde logística e tecnologia até políticas públicas – para promover a saúde, ampliar o acesso e reduzir disparidades, destacam os porta-vozes. Inclusive nas regiões onde atua, segundo Gibbon.
Além de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico e fornecer médicos para regiões remotas, a Afya estabeleceu mais de 600 parcerias no último ano com Unidades Básicas de Saúde (UBS), hospitais, clínicas e prefeituras. Para isso, Virgílio explica que com o investimento privado, ao estabelecer uma instituição em uma região, não apenas se leva uma equipe de professores e médicos, mas também se oferece treinamento e capacitação, gerando um impacto significativo para a área. “O grande aprendizado é você ter uma proximidade com o poder público local e um investimento pesado na preparação do processo de ensino e aprendizagem com os docentes que trazemos para a região”, afirmou.
O CEO da Afya ilustra ainda o fato de que quase 250 mil médicos utilizam a solução Whitebook para apoiar a tomada de decisão clínica e que em breve deve ser lançado um protótipo que integrará o prontuário com o software utilizado na anamnese. Com isso, segundo ele, tem-se a capacidade de monitorar doenças e pandemias em tempo real e oferecer suporte para políticas públicas, além de identificar lacunas de conhecimento entre especialistas.
Fonte: Futuro da Saúde