Instituto do Sono lança Carta aberta à entidades de saúde e população

Data: 05/04/2021

Com o início da vacinação contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), uma preocupação que surge é a de garantir que as pessoas que receberão a vacina possam desenvolver a melhor resposta imunológica possível.

Nos últimos anos, as descobertas científicas têm mostrado que existe uma interação importante entre o sono e o nosso sistema imune. Durante o sono profundo ou sono de ondas lentas ocorre o pico de produção do hormônio de crescimento (GH), níveis elevados de prolactina e o nadir de cortisol, o que cria um ambiente ideal para a cascata de desenvolvimento de imunidade, como a migração das células T, liberação de citocinas, resposta dos linfócitos, e formação de anticorpos.

A literatura científica tem demonstrado que a privação de sono nos dias que antecedem a vacinação resulta em redução da produção de anticorpos (resposta imune humoral). Um estudo recente mostrou que dormir bem nas 2 noites que antecederam a imunização contra a gripe foi associado à uma resposta humoral mais eficiente avaliada 1 e 4 meses após a vacinação. Outro estudo envolvendo adultos com e sem insônia observou que os insones desenvolveram significativamente menos anticorpos contra influenza 4 semanas após a vacinação, evidenciando o impacto da privação crônica de sono no desenvolvimento da imunidade. Esta constatação foi corroborada por artigo publicado em 2020 que avaliou trabalhadores de turno. Foi observada menor resposta imunológica humoral nos trabalhadores de turno quando comparada com trabalhadores diurnos após a vacinação contra o meningococo C.

Por outro lado, manter a qualidade de sono nas noites subsequentes à vacinação, para permitir que o organismo consiga produzir os anticorpos de forma satisfatória, também é fundamental. Um estudo apontou que indivíduos que recebiam a vacina contra a Hepatite A e não dormiam na noite após a vacinação, apresentavam quase metade dos anticorpos quando comparados com aqueles que dormiam bem. É importante ressaltar que esses efeitos ainda estavam presentes após o acompanhamento de 1 ano, indicando que o sono aumenta a formação inicial de uma resposta imune adaptativa e também a suporta a longo prazo. Já em outro estudo que distribuiu os participantes em grupos conforme a duração de sono 3 dias antes, no dia da vacinação e 3 dias após, cada hora adicional de sono foi associada a um aumento próximo de 50% nos níveis de anticorpos produzidos.

Contamos com a sua colaboração para a orientação dos pacientes e da população em geral para que tenham noites de sono com qualidade e quantidade adequadas antes e após a vacinação contra a COVID-19.