Um dos maiores desafios da saúde no Brasil é integrar, com sucesso, transparência e respeitando todas as premissas de segurança e privacidade, a enorme quantidade de dados e informações relativas a um contingente populacional de mais de 200 milhões de pessoas. Esse volume gigantesco de dados clínicos é essencial para endereçar a medicina preventiva e preditiva, como também apontar comportamentos e tendências. A superação desse entrave – longe de ter uma equação resolvida – contribui para a otimização de recursos, melhora da qualidade assistencial e para a – mais do que necessária – eliminação de desperdícios, gerando mais acesso e sustentabilidade.
As empresas de saúde, hoje, trabalham com grandes bancos de dados dispersos em sistemas nas diversas unidades de negócios, exigindo uma gestão coordenada, conectada e ágil, evitando a chamada “dívida de desconexão”1. O termo define as perdas, sejam financeiras, de gestão ou de experiência do cliente, ocasionadas por sistemas desconectados que demandam extensas horas de trabalho para extrair, transferir e integrar dados de um sistema para outro, resultando em altíssimos impactos negativos.
No setor hospitalar, conhecemos dezenas de indicadores, criados a partir da compilação, interpretação e análise de milhares de dados e informações. As organizações hospitalares utilizam alguns deles em comum, bastante objetivos, como taxa de ocupação ou índice de giro de leitos – necessários para a administração das unidades.
Entretanto, do ponto de vista macro do setor no Brasil, não há um consenso sobre quais indicadores são suficientemente abrangentes, transparentes – inclusive no que diz respeito à qualidade dos dados – e principalmente, permitam realizar análises e leituras profundas.
De certa forma, a saúde se encontra em uma espécie de dívida de desconexão intrasetorial. Os dados existem e estão disponíveis para gerar informações e indicadores importantes para a gestão, mas a impossibilidade de comparação efetiva entre as bases utilizadas é uma fragilidade do sistema. Um desafio que precisa ser enfrentado para viabilizar ações setoriais que promovam a sustentabilidade do setor.
A superação desta dívida de desconexão demanda a criação de um novo cenário, incluindo neste palco atores públicos e privados dirigindo esforços para o compartilhamento de informações e indicadores (dentro dos limites da LGPD, e considerando compliance e ética) de forma a subsidiar uma visão completa e realista do sistema de saúde.
Todos os setores de atividade humana fazem uso dos dados para avaliar, planejar, prever cenários ou realizar análises para obter os melhores resultados. Para que os dados sejam úteis, é preciso que se transformem em informações, obtidas a partir do processamento baseado em critérios e conhecimentos coerentes aos objetivos desejados. É essencial também que os dados utilizados sejam confiáveis e auditáveis. Essas informações podem ser organizadas de forma a gerar indicadores que funcionam como balizadores para tomadas de decisões. Em saúde, evidentemente, não é diferente.
A transformação que almejamos será necessariamente baseada na transparência e na qualidade das informações e indicadores. O aprimoramento da governança resulta na eliminação de desperdícios e aumenta a eficiência. Desta forma, o setor poderá oferecer serviços mais econômicos, com maior qualidade e garantir a sustentabilidade econômica. Além disso, ao ampliar o acesso à saúde, colabora também com a esfera pública reduzindo a pressão sobre o sistema estatal.
Fonte: Saúde Business