Diminuição na permanência, na mortalidade operatória e aumento de taxa de ocupação de hospitais revelam evolução do setor, que ainda enfrenta desafios financeiros
O setor hospitalar demonstra crescimento em eficiência operacional, mas ao mesmo tempo enfrenta desafios persistentes com aumento de glosas e atrasos no recebimento de pagamento. Indicadores mostram evolução assistencial, como a diminuições de permanência no hospital, de 4,61 dias em 2021, para 3,99 dias, em 2024, e de mortalidade operatória, de 0,37% em 2021 para 0,27%. Já a taxa de ocupação dos hospitais cresceu, de 76,85% em 2023, para 78,97% em 2024, segundo dados do Observatório 2025 da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), lançado nesta quarta-feira, 23.
Apesar desses resultados positivos, os desafios financeiros persistem. Os hospitais associados da Anahp observaram um crescimento no atraso do pagamento por parte das operadoras. A média de glosa inicial gerencial, que mede os valores glosados pelas operadoras de planos de saúde ainda em fase de inicial gerencial, que mede os valores glosados pelas operadoras de planos de saúde ainda em fase de inadimplência das operadoras cresceu de 49,96% em 2023 para 61,53% em 2024.
Outro desafio que o setor também enfrenta é a baixa retenção de profissionais. O relatório da Anahp mostra um aumento no índice de rotatividade de pessoal, passando de 2,27%, em 2023, para 2,60% em 2024.
Para Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp, apesar das dificuldades, os dados mostram um cenário de melhora do setor. “Temos claramente melhorias no ponto de vista operacional, uma estabilidade na margem do EBITDA, dificuldades para receber, o que já é conhecido, e um ponto de muita atenção que é a questão da formação e retenção de profissionalização”, explica. Segundo o diretor, os dados mostram que o setor retornou a um nível de normalidade quando comparado a índices pré-pandemia.
Além do fee for service
Segundo o levantamento, 63,96% dos hospitais Anahp atuam com outros modelos de remuneração para além do tradicional fee-for-service, que foca no pagamento por procedimento. Dos respondentes, 54,95% deles utilizam pagamento por diárias hospitalares e 40,54% por pacotes e bundles.
No entanto, ainda há espaço para avançar. Um dos principais passos para isso é uma reforma no setor, defende Britto. “É indispensável uma reforma na saúde suplementar que aumente a segurança jurídica, que modifique a forma como as pessoas e as empresas pagam os seus planos e que modifique a forma como os hospitais e as operadoras estabelecem as suas relações comerciais”, defende.
Sistema de indicadores da Anahp
Junto ao lançamento do Observatório, a Anahp também dá início à integração da rede pública ao sistema de indicadores, que deve qualificar a assistência em escala nacional. Segundo a associação, mais de 300 hospitais devem começar a usar o sistema para inserir informações. Entre eles, estão acordos de cooperação com o Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB). “Isso vai ser muito bom para o país, porque vai mostrar que alguns hospitais públicos são excelentes e vai ajudar os demais hospitais a avaliarem e melhorarem a sua qualidade”, comenta Britto.
Segundo Daniel Soranz, secretário municipal de saúde do Rio de Janeiro, os indicadores representam uma possibilidade de implementar melhorias e tornar o sistema mais eficiente. “Podemos perceber que muitos ganhos de eficiência no setor público também podem ser alcançados pelo setor privado. Então, que a gente possa trocar experiências permitindo construir um sistema de saúde melhor”, comenta. De acordo com o secretário, olhar para os dados é uma forma de otimizar processos, gerar economia de recursos e integração que podem gerar ganhos para ambos os setores.
Para Antônio José Rodrigues Pereira, superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), a transparência será fundamental nessa cooperação mútua. Ele frisa, no entanto, que é necessário comparar instituições que tenham perfis semelhantes para ter aprendizados: “Não é apenas comparar, é olhar atrás dos indicadores, para as estruturas”.
Fonte: Futuro da Saúde