Falta de investimento põe saúde da mulher no CTI

Data: 08/03/2023

 

 

É muito pouco parabenizar as mulheres pelas vitórias, pelo espaço conquistado com muito esforço, pelas portas abertas em lugares antes negados pela sociedade. O Dia Internacional da Mulher é também uma oportunidade para novos passos. Um deles, dar visibilidade a questões que merecem atenção especial, como a saúde feminina. Apesar de representarem mais da metade da população, e ainda que as mães sejam responsáveis por tomar aproximadamente 80% das decisões sobre cuidados de saúde¹ na família, é perceptível a enorme lacuna existente nos investimentos e pesquisas para avançar nas opções de tratamento para elas.

 

Nos Estados Unidos, um estudo de 2020 revelou que apenas 1% da pesquisa e inovação em saúde é investido em soluções exclusivas para mulheres. E, em 2022², do total de 37 medicamentos prescritos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos EUA, apenas 2 eram para condições específicas de saúde da mulher.³

 

A falta de investimento tem diversas consequências. Entre elas, o aumento da mortalidade materna. De acordo com estimativas divulgadas em fevereiro no relatório da ONU, a cada dois minutos uma mulher morre no mundo em decorrência de complicações durante a gravidez ou parto – os dados são referentes a 2020. O Brasil é um dos países que contribuem de forma significativa para essa estatística. Aqui, o número de óbitos de mulheres ao darem à luz aumentou 5,4% em relação aos últimos vinte anos.4

 

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou uma taxa de mortalidade materna de 110 mulheres por 100 mil nascidos vivos em 2021, o que nos deixa muito longe da meta estabelecida pela ONU de reduzir o índice, até 2030, para no máximo 30 mortes a cada 100 mil nascidos vivos.

 

Culturalmente, as mulheres brasileiras procuram mais por consultas médicas e check-ups de rotina do que os homens. No entanto, esses cuidados têm sido direcionados, ainda que de forma não satisfatória, para exames ginecológicos, já que é a especialidade médica que elas reconhecem como a mais importante para a saúde delas. Com isso, exames para prevenção do câncer, por exemplo, são relegados. Prova disso é a pesquisa global realizada pela empresa de tecnologia médica Hologic, em parceria com a Gallup. O estudo apontou que, em 2021, menos de 1 em cada 8 mulheres passaram por exames para a detecção da doença.5

 

Essa pesquisa tem o objetivo de traçar o Índice Global de Saúde da Mulher e o Brasil ficou abaixo da média mundial, ocupando a 104ª posição, entre os 122 pesquisados, atrás de outros países da América do Sul como Colômbia e Bolívia. Infelizmente, o resultado não chega a ser inesperado. O Brasil possui uma das maiores desigualdades sociais do mundo, o que significa que há uma grande distância entre aquelas que podem e as que não podem ter acesso a serviços de saúde adequados.

Especialmente em regiões mais afastadas dos centros urbanos, as brasileiras sofrem com a falta de serviços de saúde de qualidade, com a carência de medicamentos, de tratamentos e com a escassez de profissionais especializados.

 

Para mudar esse cenário, é necessário aumentar os investimentos em pesquisas sobre novos tratamentos e medicamentos que beneficiem a saúde da mulher, bem como investir na política de prevenção, promovendo a educação em saúde e o autocuidado. É fundamental fazer com que as mulheres tenham conhecimentos sobre saúde sexual e reprodutiva, com informação e orientação sobre o uso adequado dos contraceptivos, para que possam fazer as suas próprias escolhas sobre quando ter ou não ter filhos. Além disso, é preciso garantir o acesso à saúde de qualidade para todas, independentemente de renda, localização ou outros fatores.

 

Não há uma fórmula instantânea. Mas só com uma maior integração de todos os setores da sociedade vamos conseguir desenvolver soluções e medidas que contribuirão para melhorar a saúde da mulher no Brasil. É um investimento com retorno garantido. Quem topa?

 

Fonte: Estadão