Déficit de aprendizado após dois anos de ensino remoto também é preocupação
Depois de dois anos com aulas remotas, alunos que entraram na universidade nos últimos semestres começaram a ir presencialmente às instituições de ensino.
O longo período em casa, porém, prejudicou saúde mental e aprendizado de alguns. Por isso, escolas criam ou adaptam programas para ajudá-los em ambas as frentes.
Na FGV (Fundação Getulio Vargas), os professores dão aos alunos um teste sobre o material dos semestres anteriores. Dependendo do resultado, o estudante participa de uma espécie de recuperação, no contraturno, com duração média de três meses.
Além disso, os estudantes têm à disposição, 24 horas por dia, atendimento com psicólogos. “É bem procurado, e é uma iniciativa que veio por causa da pandemia, mas que não deve acabar no futuro”, diz Antonio Freitas, pró-reitor.
O Insper já atuava nas duas frentes, mas viu o número de estudantes atendidos pelos programas se multiplicar na volta ao presencial.
A partir da percepção do próprio aluno, de colegas ou de professores de que algo não está bem com a saúde mental de alguém, a escola intervém e oferece ajuda. Caso o estudante não a aceite, ele é monitorado e, dependendo do caso, sua família é acionada.
“Além do atendimento psicológico em si, que se estende também às famílias, recomendamos que o estudante participe da comunidade, em atividades esportivas, coletivos etc.”, diz Guilherme Martins, diretor de graduação. Ele estima que o número de atendidos tenha dobrado por causa do período de isolamento.
A escola também instituiu, com a pandemia, uma prova de nivelamento entre os ciclos (antes, havia uma avaliação só, para recém-aprovados). Quem vai mal é encaminhado para aulas extras.
O número de alunos nesses reforços aumentou duas vezes e meia com a pandemia.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie, por coincidência, havia implementado o programa Pró-calouro um mês antes da crise sanitária.
“Entre outras coisas, há prova de nivelamento. O aluno recebe uma nota e, se necessário, a gente o incentiva a fazer um curso, durante um semestre, que o ajuda a sanar deficiências”, conta Janete Brunstein, pró-reitora de graduação.
Entre 2021 e 2022, 959 alunos participaram do projeto para recuperar conteúdo de língua portuguesa e 1.281 o fizeram com matemática.
Já a ESPM tem há quase uma década o Papo (Programa de Apoio Psicológico e Orientação). No campus de São Paulo, são 60 atendimentos por semestre. O aluno é encaminhado ao projeto quando professores identificam comportamento dissonante do resto da turma. Caso não tope, é acompanhado de longe, via relatos dos docentes.
Especificamente por causa da pandemia, porém, a ESPM implementou o Papo Aberto, com rodas de conversa sobre temas como afeto, isolamento e saúde mental.
“Houve um trabalho sobre comunicação não violenta, porque os alunos tinham perdido um pouco a destreza no trato com o outro após o isolamento”, diz Cristina Helena Pinto de Mello, diretora da área que cuida do bem-estar de professores e alunos.
Fernanda Turri, 21, sabe bem das dificuldades no convívio social geradas pela pandemia. Ela passou no curso de psicologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) no fim do ano passado, após quatro anos de cursinho —antes, queria medicina.
A adaptação, porém, foi difícil. As aulas, em Santos (SP), começaram em abril.
“Encontrar pessoas me gerava ansiedade. Houve a semana de integração dos calouros e foi muito difícil me enturmar. Havia atividades na semana inteira e eu fui embora na quarta. Eu não conseguia conversar com ninguém.”
Ela diz ter certeza de que o cenário seria diferente caso não houvesse pandemia. Mas conta que, depois, encontrou apoio nos colegas. “Conversei com os veteranos, contei as dificuldades e criei uma rede de apoio”, afirma Fernanda.
Fonte: Folha de São Paulo