Foi somente após uma tentativa de suicídio que o levou ao setor de emergência da UPA Moreninhas, que Pedro (*), de 27 anos, compreendeu a urgência em cuidar de sua saúde mental. A depressão, segundo ele, foi desencadeada pelo término de um relacionamento.
“Tive um episódio traumático onde fui parar no hospital e foi isso que me levou a procurar ajuda. Há oito meses faço acompanhamento na UBS (Unidade Básica de Saúde) Moreninhas e nesse tempo descobri a importância de procurar um tratamento”, ressalta.
De início, Pedro buscava alívio através da medicação, mas ao receber orientação da Rede de Assistência em Saúde, percebeu que o tratamento demandava um cuidado mais abrangente, combinando os remédios com a psicoterapia e exercícios físicos.
“Hoje faço todo o acompanhamento, com terapia todos os meses, faço academia e isso tem me ajudado muito a enfrentar a depressão”.
Neste mês, é celebrado o “Janeiro Branco”, a data, — criada em 2014 — visa alertar para os cuidados com a saúde mental e emocional da população, a partir da prevenção das doenças decorrentes do estresse, como ansiedade, depressão e pânico.
Assim como Pedro, muitas pessoas só reconhecem a necessidade de cuidar da saúde mental após vivenciarem eventos traumáticos. Gislayne Budib, coordenadora da Rede de Saúde Mental da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), atribui isso ao estigma e à psicofobia enraizados na sociedade.
“A psicofobia, infelizmente, persiste, dificultando a busca por ajuda. Hoje temos uma lei que protege as pessoas vítimas desse preconceito, mas ainda é difícil quebrar esse paradigma, por isso focamos em levar informação para acabar com esse preconceito e mostrar que é importante buscar ajuda”.
A psicofobia, caracterizada pelo preconceito contra transtornos mentais, afeta milhões de pessoas globalmente. Dados da OMS, que indicam que cerca de 720 milhões de pessoas enfrentam doenças mentais, o que representa aproximadamente 10% da população mundial.
A coordenadora explica que a depressão não é exclusivamente uma doença mental psiquiátrica, pois vários fatores podem contribuir para o seu desenvolvimento.
“Doenças clínicas, como o lúpus, podem desencadear a depressão. Nesses casos, orientamos o tratamento para a saúde mental assim que o diagnóstico clínico é estabelecido”, ressalta Gislayne.
Como dar o primeiro passo?
Gislayne Budib destaca que o primeiro passo para buscar ajuda é procurar uma UBS e agendar uma consulta com a Rede de Saúde Mental. Após essa avaliação inicial, o paciente é direcionado para o tratamento adequado, a depender da gravidade do caso.
“Após a consulta, o médico avalia a situação. Para casos de depressão leve, o tratamento é conduzido na própria UBS. Já em situações mais graves, como tentativas de suicídio, o encaminhamento pode ser para o CEM ou CAPS”, esclarece.
Ela enfatiza que, embora seja orientado procurar a UBS primeiro, os pacientes podem buscar atendimento diretamente nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), sendo então encaminhados para a unidade mais próxima de sua residência.
“O atendimento é feito por demanda espontânea, respeitando as unidades referências de cada região., mas temos equipes de plantão disponíveis em toda a cidade para oferecer acolhimento inicial e avaliar os casos”, explica.
Para casos leves, o tempo de espera para o início do tratamento é de até 30 dias. Em situações urgentes, a recomendação é procurar uma UPA 24h. Após avaliação inicial, o paciente pode ser encaminhado para o CAPS ou hospital, se necessário.
Segundo a especialista, mesmo sendo uma doença que atinge diferentes faixas etárias, são geralmente os jovens, entre 18 e 29 anos, que costumam procurar assistência médica. Por isso, é essencial alertar sobre os sintomas, principalmente em crianças e idosos.
Entre os sintomas da depressão estão:
Perda ou ganho de peso;
Distúrbio de sono;
Fadiga ou perda de energia constante;
Sentimento permanente de culpa e inutilidade;
Dificuldade de concentração;
Ideias suicidas (pensamentos recorrentes de suicídio ou morte);
Baixa autoestima;
Alteração da libido.
Assistência à saúde mental deve ser ampliada em 2024
Em Campo Grande, a Rede de Saúde Mental abrange sete CAPSs, incluindo quatro CAPS III adulto, dois CAPS álcool e outras drogas, um CAPS Infanto Juvenil, duas Unidades de Acolhimento (uma infantil e outra adulta) e quatro Residências Terapêuticas.
Todas as unidades operam 24 horas por dia, realizando em média 1300 consultas ambulatoriais de saúde mental e 2 mil atendimentos nos CAPS por mês.
A Rede Municipal oferece 110 leitos para pacientes com problemas psiquiátricos ou usuários de álcool e drogas. Além disso, o Município possui 12 leitos no Hospital Regional e 36 no Hospital Nosso Lar, destinados ao atendimento de pacientes com transtornos psiquiátricos.
Nos últimos quatro anos, a Rede de Atenção Psicossocial de Campo Grande inaugurou duas novas unidades e ampliou os leitos existentes. A unidade mais recente foi inaugurada em outubro de 2023, no bairro Guanandi, o Caps Márcia Zen, para tratamento de dependentes de álcool e drogas.
Para 2024, Gislayne Budib destaca que está prevista a inauguração de uma CAPs II nas Moreninhas, a unidade seria a maior de toda a Rede de Assistência em Saúde com 20 leitos de psiquiatria.
Remédios são gratuitos e de fácil acesso
Além da terapia, muitos pacientes necessitam de medicamentos para auxiliar no tratamento das doenças mentais. Gislayne Budib destaca que o SUS (Sistema Único de Saúde) oferece uma ampla gama de remédios, conforme diretrizes do Ministério da Saúde.
“Ofertamos toda a lista da Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais). Isso inclui antidepressivos como a Fluoxetina, Amitriptilina. Antipsicóticos como Haloperidol, é toda gama de remédios”, explica.
Com a receita médica, o paciente pode obter os medicamentos gratuitamente em qualquer farmácia de unidade de saúde. Para medicamentos de alto custo, como Olanzapina e Risperidona, utilizados no tratamento de esquizofrenia e transtorno bipolar, a retirada é feita na Casa da Saúde.
“A prescrição é feita no CAPS e o paciente recebe o medicamento gratuitamente na Casa da Saúde, localizada no Albano Franco. Lá, disponibilizamos os remédios mais caros e específicos para cada transtorno”, afirma.
Confira mais detalhes sobre depressão:
Sinais de alerta:
• Afastamento das pessoas, até mesmo das mais próximas;
• Desesperança quanto ao futuro;
• Sentimentos negativos frequentes e duradouros;
• Baixa autoestima;
• Mudança de comportamento.
Frases também podem emitir alertas, como, por exemplo:
• “Não tenho mais vontade de fazer nada”;
• “Não vejo mais sentido em viver”;
• “Queria dormir e não acordar mais”.
Fatores de risco:
• Doença mental;
• Isolamento;
• Doenças crônicas;
• Uso de drogas (lícitas ou ilícitas);
• Histórico familiar e genético;
• Sentimentos de desesperança, desespero e desamparo.
Como ajudar?
• Acolher;
• Empatia;
• Olhar com amor para o próximo;
• Valorizar a dor do outro;
• Não fazer julgamentos e nem sermões;
• Oferecer ajuda.
Fatores Protetivos:
• Autoestima elevada;
• Capacidade de solucionar problemas;
• Capacidade em adaptação;
• Psicoterapia;
• Vida social ativa;
• Suporte familiar;
• Espiritualidade;
• Exercícios físicos.
Procure ajuda
Além do CAPS e UBSs, o cidadão que precisa de ajuda psicológica em Campo Grande conta com alguns programas de apoio, que possuem diferentes tipos de atendimento. Confira abaixo alguns:
GAV (Grupo Amor Vida): presta serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone: 0800 750 5554 (ligação gratuita) ou pelo e-mail precisodeajuda@grupoamorvida.ong.
Coordenadoria de Atendimento Psicossocial da Polícia Civil (exclusivo para agentes e familiares): conta com equipe multidisciplinar de psicologia, serviço social e capelania. Fazem plantão psicológico e encaminhamentos junto aos planos de saúde. Mais informações pelo telefone (67) 99627-6178.
CVV (Centro de Valorização da Vida): oferece apoio emocional e prevenção do suicídio de forma gratuita, todos os dias, pelo telefone 188, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Fonte: Midiamax