A enfermeira Telma Gonçalves Carneiro Spera é a atual provedora da Santa Casa de Assis. Mestre em Enfermagem Fundamental e doutora em Ciências-Psicobiologia, ela atua na linha de pesquisa no campo da neurociência, estudando os mecanismos neurobiológicos subjacentes ao estresse, ansiedade e depressão.
Com uma imensa bagagem curricular, Telma deixa claro que ser provedora de um dos maiores hospitais filantrópicos da América Latina, não é uma tarefa fácil e, sim, um desafio. “Hoje em dia com o cenário econômico atual, assumir uma instituição sem recursos e que se encontra imersa em dívidas é altamente desafiador. Costumo dizer que, aparentemente, é um “suicídio” profissional e pessoal”, declara.
Entretanto, ela também vê esse desafio como uma oportunidade de realizar uma administração correta, íntegra, transparente e segura, principalmente em um momento de crise financeira que o hospital se encontrava. “Ter a oportunidade de acolher toda a equipe com amor, respeito e justiça é algo que, além de mostrar a todos que é possível fazer uma gestão técnica e incorruptível, também é possível gerenciar uma instituição com um cuidado especial com o trabalhador, já que a gestão de pessoas é refletida na qualidade da assistência prestada ao paciente e seus familiares”, explica.
Telma relata que foram estabelecidos planejamentos de forma criteriosa, envolvendo a reorganização de todos os setores, a partir de um processo de avaliação externa e interna. A gestão participativa das áreas foi fundamental para que os colaboradores tivessem a ciência da realidade e passassem a participar ativamente do processo de recuperação da empresa.
Com isso, houve uma mudança de paradigma e, segundo ela, a instituição não deixou de ser filantrópica, mas passou a ser conduzida com base em uma visão empresarial. Iniciou-se então um processo rígido e contínuo de avaliação e controle de todos os setores em cada área, mantendo na equipe somente pessoas comprometidas e que se dispuseram a seguir na mesma filosofia de trabalho e, embora tenha sido feito uma contenção de despesas, não faltou nada para os trabalhadores, pacientes e familiares.
A falta de recurso, que gerava desmotivação e desconfiança por grande parte dos colaboradores, as dívidas antigas com os funcionários e fornecedores, a falta de protocolos, processos e fluxo de trabalho foram algumas das dificuldades enfrentadas por Telma, que diz que se não fosse o apoio irrestrito da diretoria, dos conselheiros do Conselho de Administração e Fiscal, da irmandade, dos voluntários da instituição e das equipes de saúde como um todo, especialmente enfermeiros e médicos, o resgate da Santa Casa não teria acontecido.
Telma e sua equipe conseguiram sanar as dívidas anteriores a juros menores com os bancos, mas o pagamento mensal é o déficit que existe.“As metas foram estabelecidas para o mandato de dois anos. Cumprimos quase todas, mas existem ainda muitas necessidades primordiais que só poderão ser alcançadas se o governo federal implementar de fato o programa “Pró-Santas Casas” para resgatar todas as instituições do Brasil”, diz.
Ser enfermeira, professora, pesquisadora e também gestora a serviço da saúde foi uma grande realização pessoal e profissional, pois foi nesse momento da sua carreira que ela conseguiu colocar em prática todos os conhecimentos obtidos ao longo de sua vida. “Acredito que meu papel como provedora foi mostrar que era possível sim resgatar a instituição e imprimir um novo modelo de gestão, baseado em gestão de pessoas, na execução de assistência à saúde com amor e alegria”, declara.
Ela ainda destaca que atualmente todos reconhecem o papel da enfermagem no planejamento, execução e avaliação dos cuidados aos pacientes e seus familiares. “O enfermeiro e sua equipe são profissionais indispensáveis em todos os setores da saúde para que ocorram mudanças positivas e impactantes”, avalia.
Fonte: Coren-SP