Se o termo ainda é pouco comum, o etarismo ou ageísmo, que é o preconceito relacionado à idade, é bem conhecido no mundo corporativo.
Prova disso é que, segundo uma pesquisa da plataforma de vagas Infojobs, que ouviu 1.222 profissionais, 57% das pessoas com mais de 40 anos já sofreram preconceito por causa da sua idade. Outros 66% deles já sentiram que os mais novos duvidam de seu profissionalismo.
E o problema não para por aí. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até 2050 o número de brasileiros acima dos 60 anos deve ultrapassar os 40 milhões, quase 20% da população brasileira.
Apesar disso, outro estudo realizado pela consultoria Ernst & Young, em parceria com a agência Maturi, mostrou que 78% das empresas reconhecem ter barreiras para contratação de trabalhadores com mais de 50 anos. E 80% afirmaram que não possuem políticas específicas e intencionais de combate à discriminação por idade em seus processos seletivos.
Como reflexo da falta de diversidade etária, o quadro de funcionários dessas corporações não tem mais do que 10% de colaboradores com mais de 50 anos. Portanto, neste Dia do Idoso, celebrado em 1º de outubro, ainda há pouco a comemorar quando o assunto são políticas de inclusão e desenvolvimento de talentos mais velhos.
“As empresas estão começando a se conscientizar sobre o tema, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, afirma Mórris Litvak, CEO da Maturi, agência especializada em capacitação empregabilidade para profissionais 50+.
Afinal, o que é etarismo?
O termo foi criado pelo gerontologista Robert Butler, em 1969. Na época, ele analisou uma mobilização de moradores de um bairro de Washington D.C., nos Estados Unidos, contra as moradias populares para idosos. Butler notou que haviam ali características semelhantes às do racismo e do sexismo. Por isso, batizou, então, o fenômeno de “ageism”.
Por que combater o etarismo é tão importante?
Se engana quem pensa que combater o etarismo nas empresas tem a ver com filantropia. De acordo com o levantamento ‘Diversa-Idade’, realizado pela GNT/Rede Globo, 76% dos brasileiros 50+ são a única ou a principal fonte de renda das residências do país.
“Neste sentido, a inserção deste público no mundo corporativo é uma necessidade premente, tanto em termos emocionais e familiares, como sócio-econômicos”, afirma Mauro Wainstock, sócio da consultoria HUB 40+, sobre diversidade etária, e Linkedin Top Voice.
Profissionais acima dos 50 anos, explica o especialista, trazem maturidade, liderança, e forte networking para as equipes. Além disso, possibilitam uma valiosa troca de conhecimentos e experiências entre as gerações.
“A adequada integração deste segmento etário no mercado de trabalho, inclusive no ecossistema startupeiro e inovador, é um caminho natural e irreversível, ainda mais se considerarmos as qualificações técnicas desse grupo”, ressalta Wainstock
Mas os motivos vão além. Um estudo da consultoria Economist Group, nos Estados Unidos, identificou que US$ 850 bilhões foram perdidos em produtividade no país, em apenas um ano, devido ao preconceito etário.
Isso porque profissionais com mais de 50 anos representam a fatia da população com o maior poder aquisitivo: são 57 milhões de consumidores que movimentam acima de R$ 2 trilhões por ano.
Ou seja, fica evidente que incluir profissionais idosos nas empresas, que podem contribuir com o desenvolvimento de soluções e produtos para esse público, é importante também para os negócios.
Exemplos de atitudes de etarismo nas empresas
Identificar atitudes etaristas no trabalho é o primeiro passo para combatê-las. Mas o principal desafio é, justamente, reconhecê-las, já que elas podem estar enraizadas em comportamentos antigos. Confira alguns exemplos das atitudes mais comuns:
1. Comentários etaristas ou insultos relacionados à idade
São frases preconceituosas que reforçam estereótipos, como a ideia de que profissionais mais velhos não são capazes de aprender novas habilidades. Por exemplo:
“Ela é velha demais para o cargo”
“Ele está em fim de carreira, devia se aposentar logo”
“Não adianta ensinar, ele não sabe lidar com tecnologia”
2. Salários abaixo da média de mercado e menos promoções
Estereótipos como falta de habilidade com a tecnologia ou pouca flexibilidade para inovar contribuem também para que os profissionais mais idosos lidem com salários abaixo da média de mercado.
“O preconceito ainda é uma barreira significativa. O principal desafio é quebrar estereótipos de que profissionais mais velhos são menos produtivos ou resistentes a tecnologias novas”, diz o Móris, da Maturi.
3.Barreiras na contratação
A maioria das empresas tende a contratar pessoas com o mesmo perfil e isso inclui a faixa etária. Em outras palavras: terem a preferência por profissionais mais jovens. Porém, essa falta de diversidade pode impactar diretamente no sucesso do negócio.
“Estudos demonstram que a soma de vivências e perfis variados amplia a produtividade, estimula um clima organizacional positivo, potencializa o surgimento de soluções, qualifica os debates, contribui para a evolução de cada profissional envolvido e incrementa os lucros”, alerta Mauro.
Fonte: Flash Blog