No Brasil, a luta contra o desemprego assume um contorno ainda mais complexo para as mulheres acima de 50 anos, marcada por uma taxa de desocupação que atinge 32% deste grupo, em contraste com 19% entre os homens da mesma faixa etária. Esse fenômeno não apenas reflete desafios econômicos, mas também põe em destaque questões de saúde mental, como depressão e ansiedade, frequentemente intensificadas pelo etarismo no ambiente corporativo.
A realidade desse grupo foi trazida à luz em uma pesquisa recente da EY Brasil, evidenciando as barreiras enfrentadas pelas mulheres maduras no mercado de trabalho. Além disso, a análise mostra uma tendência das mulheres 50+ em optar por trabalhos autônomos e freelancers, em vista da dificuldade de reinserção em cargos formais, um cenário menos comum entre os homens da mesma idade.
Lucas Benevides, psiquiatra e acadêmico do Centro Universitário de Brasília (CEUB), aponta o etarismo — discriminação por idade — como um fator crítico que agrava a saúde mental das mulheres, atacando sua autoestima e bem-estar. Segundo ele, a sociedade impõe padrões que valorizam excessivamente a juventude, especialmente para as mulheres, gerando um ciclo prejudicial de desvalorização e invisibilidade.
“A sociedade costuma impor expectativas e padrões irrealistas sobre a aparência e produtividade, particularmente severos com as mulheres conforme avançam em idade. Essa pressão constante pode ser devastadora para a autoestima e saúde mental, levando a sentimentos de inadequação e isolamento”, comenta Benevides.
A luta contra o etarismo e seus impactos negativos demanda um esforço coletivo e a construção de resiliência psicológica. Benevides enfatiza a importância do apoio social, da manutenção de um estilo de vida saudável e da busca por terapia quando necessário, para enfrentar os estereótipos e promover uma identidade positiva que transcenda os aspectos físicos.
Além disso, o especialista destaca a necessidade de uma abordagem holística para abordar a saúde mental das mulheres 50+, considerando os aspectos físicos, emocionais e sociais do envelhecimento. É crucial que a sociedade, incluindo profissionais de saúde mental, reconheça e combata o etarismo, promovendo uma visão mais inclusiva e respeitosa do envelhecimento.
“A educação, o apoio social e o acesso a recursos de saúde mental são fundamentais para mitigar os impactos do etarismo e promover uma experiência de envelhecimento positiva”, afirma Benevides. O empoderamento das mulheres, por meio dessas estratégias, é essencial para superar os desafios impostos pelo etarismo no trabalho e na sociedade.
Encarar o etarismo e seus efeitos não é uma jornada fácil, especialmente no ambiente de trabalho, onde a pressão por produtividade e a valorização da juventude são predominantes. Contudo, ao destacar a força, a experiência e a competência das mulheres 50+, podemos abrir caminho para um mercado de trabalho mais inclusivo e equitativo, onde a idade seja vista não como uma barreira, mas como um ativo valioso.
Combater o etarismo, ou discriminação baseada na idade, é crucial para criar um ambiente de trabalho inclusivo e produtivo. Departamentos de Recursos Humanos (RH) desempenham um papel fundamental nesta missão, implementando práticas que promovam a diversidade etária e valorizem a contribuição de todos os funcionários, independentemente de sua idade. Aqui estão algumas estratégias eficazes que o RH pode adotar para eliminar o etarismo em suas organizações:
1. Promover a conscientização sobre o etarismo
Realize workshops, seminários e treinamentos sobre diversidade e inclusão que incluam informações específicas sobre o etarismo. Educar os funcionários sobre como estereótipos relacionados à idade podem ser prejudiciais ajuda a construir um ambiente de trabalho mais respeitoso e acolhedor.
2. Revisar as políticas de recrutamento e seleção
Garanta que os processos de recrutamento e seleção sejam justos e inclusivos. Isso pode incluir a remoção de datas de nascimento e anos de formação dos currículos durante a fase de análise, para garantir que as decisões sejam baseadas em habilidades, competências e experiências.
3. Desenvolver programas de mentoria e coaching cruzado
Implemente programas de mentoria que promovam a troca de conhecimentos e experiências entre gerações diferentes. Isso não apenas ajuda a combater estereótipos, mas também valoriza a contribuição única de cada faixa etária, promovendo a aprendizagem mútua.
4. Promover oportunidades de desenvolvimento para todos
Ofereça oportunidades de treinamento e desenvolvimento profissional que sejam acessíveis a funcionários de todas as idades. Encoraje a participação em novos projetos, cursos e workshops para garantir que todos tenham a chance de crescer e se desenvolver profissionalmente.
5. Implementar políticas de flexibilidade no trabalho
Adote políticas de trabalho flexíveis que atendam às necessidades de funcionários em diferentes estágios de vida. Isso pode incluir horários flexíveis, trabalho remoto e adaptações no ambiente de trabalho, que ajudam a acomodar as necessidades individuais de cada colaborador.
6. Realizar avaliações de desempenho justas
Assegure que as avaliações de desempenho sejam baseadas em critérios objetivos, focados em resultados, competências e contribuições reais ao invés de preconceitos relacionados à idade.
7. Fomentar uma cultura de respeito e inclusão
Cultive um ambiente de trabalho onde o respeito mútuo e a valorização da diversidade sejam a norma. Isso inclui criar canais abertos de comunicação, onde funcionários possam expressar preocupações e sugestões sobre como tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo.
8. Reconhecer e celebrar a diversidade etária
Celebre a diversidade etária na sua organização, destacando histórias de sucesso e contribuições significativas de funcionários de todas as idades. Isso pode ajudar a mudar percepções negativas e enfatizar o valor que a diversidade etária traz para a empresa.
9. Monitorar e avaliar progressos
Regularmente, avalie o progresso das iniciativas contra o etarismo. Isso pode incluir pesquisas de satisfação, análises de dados de contratação e promoção, e feedbacks dos funcionários para garantir que as estratégias estejam efetivamente contribuindo para um ambiente de trabalho mais inclusivo.
Implementando essas estratégias, o RH pode liderar o caminho na construção de uma cultura organizacional que não apenas combata o etarismo, mas que também celebre a diversidade e a inclusão em todas as suas formas.
Fonte: Mundo RH