Healthtechs contabilizam negócios no segundo dia do HIS
Se no passado as empresas do ecossistema do setor da saúde se viam como concorrentes, hoje é a colaboração que marca essa convivência. Esta foi a conclusão de um dos debates da manhã do segundo dia da 10ª edição do Healthcare Innovation Show (HIS), o principal evento de tecnologia e inovação em saúde da América Latina, realizado no São Paulo Expo.
Representantes de instituições de saúde participaram do painel “Concorrentes, mas nem tanto: as estratégias de parcerias para expandir o mercado”, que reuniu empresários do setor para discutir como a colaboração é estratégica para suas empresas.
O CEO do Grupo Santa, Gustavo Fiuza, afirmou que a união de agentes especialistas em cada elo da cadeia é a melhor forma de garantir retorno sobre os investimentos, além de aumentar a percepção de valor e eficiência. “No nosso caso, a parceria com o Grupo Bradesco permitiu estreitar a relação entre a fonte pagadora e o prestador, detalhando para a fonte pagadora as características da nossa cadeia e definindo, com eles, novos modelos remuneratórios mais bem estruturados.”
Já o presidente de Unidades de Negócios Médico, Técnico, de Hospitais e Novos Elos do Grupo Fleury, Edgard Rizzati, comentou que a colaboração é o caminho para agregar excelência com uma melhor relação custo-benefício. O ponto focal que justifica a definição de uma parceria é a construção de valor, seja financeiro, científico, entre outros.
Parcerias com startups
Em uma área exclusiva, mais de 35 healthtechs apresentam no HIS suas soluções para o setor de saúde. Essas startups atuam em diversas áreas da cadeia do ecossistema, oferecendo ferramentas tecnológicas para diferentes frentes.
“O HIS é um evento pensado para potencializar a sinergia entre o universo da tecnologia e o ecossistema de saúde. Por isso, faz todo o sentido abrir um espaço de destaque para que as healthtechs participem e aproveitem as sinergias com o público do evento, composto por profissionais do setor e representantes das principais instituições de saúde da América Latina”, diz Juliana Vicente, head do portfólio de Saúde da Informa Markets, empresa organizadora do evento.
Este ano, a IA é uma grande tendência. Além de ferramentas aplicadas à automação e digitalização de processos, meios de pagamento, agendamento de consultas, gestão financeira e IoT aplicada ao monitoramento, outras soluções inovadoras também se destacam. A MedCare, por exemplo, oferece uma plataforma que permite a correção de movimentos em fisioterapia sem a necessidade de o paciente estar online com o fisioterapeuta.
Outra solução, a Arvo, desenvolveu uma tecnologia para redução de erros, fraudes e desperdícios em transações de saúde por meio de recursos de IA, promovendo maior integridade nas operações.
A WellCare apresentou sua tecnologia de wearables e monitoramento remoto de pacientes, enquanto a Hex Green trouxe um sistema de monitoramento e gestão da cadeia de frio. “É muito importante para nós estarmos aqui no HIS, conhecendo inovações e tecnologias. Estamos apresentando a WellCare”, explicou Everton J. de Ros, diretor executivo da empresa. “Viemos em busca de um público muito seleto e, felizmente, o encontramos aqui: os decisores de inovação nas instituições de saúde”, completou.
Sobre o networking realizado, Everton destacou: “Esse público seleto que frequenta o HIS tem nos proporcionado excelentes oportunidades de networking.” Ele ressaltou que esta é a primeira vez que a empresa participa do evento: “É a primeira vez que estamos aqui, como uma empresa nova, com três anos de pesquisa.” Quando perguntado sobre o primeiro dia de evento, Everton comentou: “O público foi extremamente qualificado, com decisores dentro das instituições de saúde. Para nós, foi essencial conversar com essas pessoas.” Ele ainda fez uma analogia: “Se tivéssemos que visitar 30 instituições para falar com essas mesmas 30 pessoas, talvez levássemos um ano inteiro, e os custos seriam muito altos. Aqui, em um único dia, conseguimos conversar com todos eles. Foi muito produtivo.”
Redes neurais humanas ou artificiais: qual é melhor?
A segunda edição do Medical Growth Summit (MGS), um dos principais eventos de crescimento empresarial no setor de saúde do país, foi realizada pela primeira vez no HIS 2024. O palco do MGS recebeu palestrantes como Martha Gabriel, uma das mais influentes pensadoras digitais do país, Michele Schneider, professora convidada da Singularity University, e médicos como os cirurgiões cardiovasculares Dr. Rafael Otto e Dr. Rogério Peron.
No mesmo palco, o Dr. João José Carvalho, professor e doutor em Neurologia, provocou o público a refletir sobre as diferenças entre redes neurais humanas e artificiais, questionando: “O neurônio ainda é melhor?”. Dr. Carvalho destacou que, embora as redes neurais artificiais tenham evoluído consideravelmente, o cérebro humano permanece incomparável.
Ele explicou que o cérebro humano é composto por 86 bilhões de neurônios, interconectados por trilhões de sinapses. “Nosso cérebro é uma enorme central de processamento, com áreas especializadas para visão, fala, memória, motricidade e emoções, entre muitas outras. Por mais avançadas que sejam as redes neurais artificiais, elas não replicam essa complexidade”, afirmou.
Um dos pontos centrais da palestra foi a crítica à ideia de que redes neurais artificiais podem imitar o cérebro humano. O Dr. Carvalho destacou que, embora algumas partes do córtex frontal possam ser simuladas, grande parte dos circuitos cerebrais ainda não tem uma representação adequada nessas tecnologias. “As redes artificiais operam de forma binária, enquanto o cérebro humano pode processar até 200 mil opções simultaneamente”, explicou, enfatizando a superioridade do cérebro em termos de plasticidade e capacidade de adaptação.
Ele também ressaltou que o cérebro humano tem uma capacidade intrínseca de aprendizado, sem a necessidade de instruções, como acontece com as redes artificiais. “Enquanto um computador precisa de uma grande quantidade de dados e algoritmos complexos para aprender algo novo, uma criança de dois anos pode reconhecer algo que viu apenas uma vez”, exemplificou. No entanto, ele também reconheceu as limitações naturais do cérebro, como a dificuldade de recuperação de informações e a degradação com o tempo, fatores que não afetam as máquinas.
Apesar dos avanços das redes neurais artificiais, o Dr. Carvalho enfatizou que essas máquinas existem para nos servir, sendo alimentadas por nossas programações. “O que perdemos em relação aos computadores são justamente as características que nos tornam mais humanos: a capacidade de pensar fora da caixa, de inovar, de sonhar, de errar e de tentar”, afirmou, deixando a reflexão para o público sobre se o neurônio ainda é melhor.
Fonte: Saúde Business