O número de pacientes com dengue na cidade de São Paulo de janeiro até a última segunda-feira (10) é o maior em sete anos, segundo dados da Coordenadoria de Vigilância em Saúde do município.
De acordo com o órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde, foram contabilizados 3.190 casos confirmados da doença neste ano, 52% a mais que no mesmo período do ano passado.
Desde 2016, ano com explosão na quantidade de pessoas com dengue no país (9.197 casos na capital, entre janeiro e começo de abril), a estatística não era tão alta.
Para tentar reduzir os números, a prefeitura diz que começará nesta quarta (12) a instalar 20 mil armadilhas de autodisseminação de larvicidas capazes de matar larvas em um entorno de 400 metros quadrados, além da própria fêmea do mosquito Aedes aegypti, atraída para o dispositivo plástico onde acaba ingerindo larvicida e fungo.
Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), a Vigilância em Saúde testou 200 dessas armadilhas entre 2020 e 2022 na Brasilândia e na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte.
As 20 mil unidades serão distribuídas nas seis Coordenadorias Regionais de Saúde —Brasilândia, Jardim Ângela, Raposo Tavares, Sacomã, Itaquera e Santa Cecília.
O custo para o contrato de 12 meses é de cerca de R$ 8,9 milhões, que inclui, além das armadilhas, insumos e manutenção, software para contagem de insetos.
“Estamos buscando inovação para o combate ao Aedes”, afirma Nunes, que apresentará o projeto das armadilhas na manhã desta quarta.
Questionada sobre o motivo para a alta de casos neste ano, a prefeitura diz que o estudo epidemiológico referente ao ano de 2023 ainda está em andamento, mas afirma que a dengue, a zika e a chikungunya geralmente se intensificam no período do verão, pois o calor e as chuvas são fatores favoráveis ao mosquito transmissor dessas doenças.
A bióloga Tamara Nunes de Lima Camara, professora Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que, além dos efeitos do aquecimento global que deixam a temperatura mais elevada, há vários fatores para explicar o aumento no número de casos de dengue.
Entre eles, ela cita que houve queda em campanhas de informação contra a doença nos dois últimos anos, durante a pandemia de Covid-19, pelo fato de ações públicas de saúde estarem concentradas na pandemia. Isso, diz a docente, provocou relaxamento na população.
O Ministério da Saúde diz que o cenário epidemiológico da dengue no Brasil tem apresentado um padrão cíclico, com alternância dos quatro subtipos do vírus causador da doença. Por isso, os períodos epidêmicos, com alto número de casos, são intercalados com períodos com menores números.
Para Maria Anice Mureb Sallum, também professora do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, não adianta apenas a adoção de ações pontuais de controle e campanhas.
É preciso ampliação de programas de saneamento básico, diz, para que as pessoas não sejam obrigadas a armazenar água em ambientes favoráveis ao vetor, aprimorar coleta de lixo e resíduos, além de reduzir desigualdades urbanas.
“O problema social provocado pelo empobrecimento da população favorece o mosquito”, afirma a professora.
De acordo com o boletim divulgado na segunda (10), Santana (zona norte), Pari (centro) e Vila Guilherme (zona norte) são atualmente os bairros com maior incidência de dengue por 100 mil habitantes na capital paulista.
Por causa da alta em março, quando houve 1.807 casos confirmados, a prefeitura intensificou na última semana daquele mês ações de bloqueio ao mosquito nos distritos com maior número de casos da doença.
Neste ano, segundo a administração municipal, foram realizadas 1.379.513 ações de prevenção ao mosquito na cidade.
Ao todo, foram 327.852 visitas casa a casa (entre rotina e intensificação), além de 13.004 vistorias a imóveis especiais e pontos estratégicos, 1.006.666 ações de bloqueios de criadouros e nebulizações, entre outros.
Segundo a professora Sallum, nas ações de combate é preciso maior participação da sociedade, incluindo moradores, governos e cientistas. “Enquanto não fizerem programas adequados para que as pessoas passem a entender o problema do mosquito, não teremos medidas de controle sustentáveis.”
A docente afirma que os inseticidas usados em nebulização hoje não resolvem o problema, pois matam os mosquitos, mas não a resistência dos ovos em ambientes que acumulam água. “É preciso trocar a classe dos produtos.”
Em nota, o Ministério da Saúde diz que todos os estados estão abastecidos com três tipos diferentes de inseticidas para o controle do Aedes aegypti.
A pasta afirma ainda ter instalado um Centro de Operações de Emergências (COE Arboviroses) para atuar no controle e redução de casos graves da doença e de outras transmitidas pelo mosquito.
Para apoiar estados e municípios que sinalizaram crescente aumento nos casos de dengue e outras arboviroses, a pasta federal diz ter enviado equipes técnicas de apoio para reforçar as ações de vigilância epidemiológica, controle vetorial e assistência.
DENGUE
Os principais sintomas da dengue são
- Febre alta (acima de 38°C)
- Dor no corpo e articulações
- Dor atrás dos olhos
- Mal-estar
- Falta de apetite
- Dor de cabeça
- Manchas vermelhas no corpo
Sinais de casos graves (procure o serviço de saúde)
- Sangramento
- disfunções de órgãos
- Extravasamento de plasma
- Os riscos aumentam quando o paciente tem alguma doença crônica, como asma brônquica, diabetes mellitus, anemia falciforme, hipertensão, além de infecções prévias por outros sorotipos
Recomendação para casos leves
- Repouso enquanto durar a febre
- Estímulo à ingestão de líquidos
- Administração de paracetamol ou dipirona em caso de dor ou febre
- Não administração de ácido acetilsalicílico
Fonte: Folha de São Paulo