O uso de medicamentos isentos de prescrição (MIP ou OTC, na sigla em inglês) poderia reduzir em 68% os gastos públicos no Brasil, considerando-se atendimento na rede pública a pacientes com quatro doenças comuns, porém de grande impacto, segundo estudo realizado pela Indústria Latino-americana de Cuidado Responsável (Ilar), que reúne entidades setoriais e indústrias farmacêuticas com atuação na América Latina. Conforme a pesquisa, 59 milhões de casos de resfriado comum, diarreia, candidíase e lombalgia são atendidos anualmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Essas quatro doenças não são graves como outros tratamentos, mas custam US$ 1 bilhão ao ano aos cofres públicos.
Conforme a Ilar, a economia seria relevante se houvesse o estímulo ao autocuidado. Enquanto no serviço público o gasto por atendimento de resfriado comum é de US$ 13,15, o uso de medicamentos isentos de prescrição pelo paciente sairia a US$ 4,26, mostra o estudo.
De acordo com o diretor-geral da Ilar, Juan Carlos Thompson, o objetivo não é estimular a autoprescrição de medicamentos, mas o autocuidado e o uso de remédios, quando necessário, que já passaram pelo crivo dos reguladores. Em sua avaliação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu padrões elevados de segurança e tem feito um bom trabalho no que tange às categorias de medicamentos. “O SUS é um dos maiores sistemas de saúde do mundo, mas tem desafios como a priorização de algumas condições. O estudo tenta avançar nesse sentido”, diz o executivo.
Nesse sentido, na avaliação de Thompson, o estudo abre portas para discussões com o governo com vistas a otimizar os recursos do sistema público de saúde, em um país cujo consumidor já está habituado aos medicamentos isentos de prescrição. Hoje, 47% do faturamento das farmácias brasileiras vem da venda de MIPs, diz.
A proposta de apurar os benefícios que o autocuidado pode ter nos gastos públicos com saúde veio na esteira de projeto apresentado em 2016 na Organização Pan-Americana da Saúde. “Uma das iniciativas apresentadas foi o estudo”, diz o diretor-geral da Ilar. No ano seguinte, as pesquisas foram conduzidas no México e, em 2018, no Brasil, Chile, Argentina e Colômbia.
Em linhas gerais, e considerando-se os cinco países, o estudo mostra que os gastos com essas quatro doenças chegam a US$ 3 bilhões. Se 50% dos casos fossem tratados com medicamentos isentos de prescrição, haveria economia de US$ 1 bilhão aos sistemas públicos.
A Ilar foi constituída em 2001, formada inicialmente pelas associações que representam a indústria de medicamentos isentos de prescrição em países da América Latina, incluindo a brasileira Abimip. Hoje, algumas multinacionais que produzem OTC fazem parte dos quadros da entidade.
Fonte: Valor Econômico