A relação entre a medicina do estilo de vida com a saúde ocupacional nas empresas

Recentemente, a entidade American College of Occupational Environmental Medicine (ACOEM) publicou um posicionamento orientativo em sua revista JOEM.

O documento aborda a Incorporação dos Princípios da Medicina do Estilo de Vida na saúde ocupacional. Na verdade, trata-se de duas faces da mesma moeda.

Os profissionais de saúde ocupacional podem utilizar os seis pilares da Medicina do Estilo de Vida (MEV) na prática diária, abordando esses tópicos durante as consultas com os trabalhadores ou encaminhando-os a especialistas quando necessário.

Cessação do Tabagismo

  • Os profissionais de saúde ocupacionaldevem perguntar a todos os pacientes adultos sobre o uso de tabaco e aconselhá-los a parar. Esse aconselhamento pode ser breve ou mais intensivo, mas intervenções de maior intensidade, que envolvem aconselhamento mais frequente, têm uma taxa de sucesso maior.
  • Os clínicos também podem oferecer farmacoterapia, como a terapia de reposição de nicotina, para pacientes adultos que desejam parar de fumar.
  • Os medicamentos podem ser usados sozinhos ou em combinação, e os clínicos devem considerar ajustes de acordo com a resposta do paciente.

Transtorno por Uso de Substâncias

  • Os profissionais de saúde ocupacional podem manter a saúde e segurança dos trabalhadoresao identificar e abordar potenciais transtornos por uso de substâncias .
  • Os clínicos podem fazer triagens para uso indevido de substâncias usando questionários validados, como o AUDIT-C, CAGE ou ASSIST.
  • Uma avaliação abrangente para possível transtorno por uso de álcool deve incluir o histórico de uso de álcool e tratamento do paciente, a quantidade e frequência de uso de álcool, histórico médico completo, exame físico e testes laboratoriais relevantes.
  • As estratégias de tratamento podem incluir encaminhamento para um profissional de saúde mental e tratamento de uso de substâncias, possivelmente através de um Programa de Assistência ao Empregado (PAE).
  • Os profissionais de saúde ocupacional podem monitorar o progresso do tratamento do funcionário, oferecer suporte e educação, garantindo confidencialidade e privacidade.

Nutrição

  • O documento que os profissionais de saúde ocupacional avaliem os hábitos nutricionais de um trabalhadorantes de fazer recomendações.
  • Várias avaliações estão disponíveis, desde métodos informais, como recordatório de 24 horas ou questionários de frequência alimentar, até análises mais estruturadas.
  • O monitoramento consistente da ingestão alimentar é benéfico, tanto como fonte de dados quanto como intervenção para perda de peso.
  • Os profissionais podem fornecer recursos educacionais, como o Guia Alimentar da População Brasileira, ou oferecer intervenções mais ativas, como uma prescrição nutricional.
  • Encaminhamentos para um médico de atenção primária, nutricionista ou especialista em nutrição podem ser úteis para cuidados especializados.

Atividade Física

  • Os profissionais de saúde ocupacional podem determinar o nível de atividade física de um paciente perguntando sobre o tempo médio diário gasto em atividades moderadas a vigorosas.
  • Usando o paradigma FITT (frequência, intensidade, tipo e tempo), os profissionais podem obter informações mais detalhadas.
  • Outras opções de avaliação incluem questionários, registros de autorrelato, observação direta e tecnologias como dispositivos vestíveis.
  • Se o nível de atividade de um trabalhador for inadequado, o profissional pode intervir diretamente ou através de encaminhamento.
  • Embora seja recomendável um questionário de pré-triagem antes de liberar um paciente para atividade física, diretrizes recentes simplificaram os protocolos de liberação, de modo que muitos adultos saudáveis que trabalham provavelmente não precisarão de avaliação adicional.
  • As intervenções diretas podem variar desde a educação e aconselhamento até prescrições formais de exercícios.
  • Opções de encaminhamento incluem profissionais de educação física, fisioterapeutas, treinadores esportivos .

Sono

  • Os profissionais de saúde ocupacional devem entender o diagnóstico e tratamento da fadiga e dos distúrbios do sono.
  • Eles podem fazer triagens para insônia perguntando sobre sintomas como dificuldade para adormecer, manter o sono ou acordar muito cedo.
  • O documento indica que muitos pacientes não procuram atendimento médico para os sintomas de insônia.
  • Os profissionais de saúde ocupacional devem estar cientes das várias comorbidades associadas à insônia, incluindo dor crônica, doenças cardíacas, AVC, diabetes, hipertensão e transtornos de saúde mental.
  • Eles devem educar os pacientes sobre práticas saudáveis de higiene do sono, que incluem limitar cochilos e o consumo de álcool e cafeína, evitar refeições tardias e o uso de telas antes de dormir, manter um horário de sono consistente e reservar o quarto para dormir.
  • Se as mudanças no estilo de vida não forem suficientes para controlar a insônia, o médico pode considerar a farmacoterapia ou encaminhar o paciente para um especialista em sono.

Saúde Mental

  • Os profissionais de saúde ocupacional podem fazer triagens para depressão e transtornos de ansiedadeusando vários instrumentos, como o PHQ-2, PHQ-9, GAD-7 e o Índice de Bem-Estar WHO-5.
  • Pacientes que obtêm resultados positivos na triagem devem ser encaminhados para um especialista para uma avaliação completa.
  • Os profissionais devem incentivar mudanças no estilo de vida, manejo não farmacológico, técnicas de autogestão, apoio social, psicoterapia e/ou farmacoterapia, conforme apropriado.
  • Para funcionários que retornam de licença de saúde mental, os clínicos podem auxiliar no plano de retorno ao trabalho.
  • Em uma crise de saúde mental, o médico pode fornecer suporte e intervenção imediatos e coordenar o atendimento emergencial, se necessário.
  • Recomenda-se a colaboração com PAE ou outros recursos de saúde mental para garantir que os pacientes tenham acesso a aconselhamento e suporte.

Conexão Social

  • Os profissionais de saúde ocupacional podem apoiar os esforços organizacionais para melhorar a conexão social, incentivando políticas que promovam um Clima Psicológico de Cuidado no ambiente de trabalho.
  • Eles podem implementar programas de triagem em toda a empresa para depressão e conexão social positiva.
  • Eles podem fornecer aos funcionários listas de recursos confiáveis e cientificamente comprovados para desenvolver conexões sociais positivas.

Finalmente, o documento incentiva os profissionais de saúde ocupacional  a se manterem atualizados sobre pesquisas e diretrizes baseadas em evidências para apoiar efetivamente a saúde dos empregados e o bem-estar organizacional. Ao integrar os princípios da medicina do estilo de vida em políticas e programas no ambiente de trabalho, os empregadores podem criar ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.

Fonte: RH pra Você