Tecnologia no SUS: por que o hospital inteligente pode ser um divisor de águas

O mundo vive uma revolução digital que já transformou profundamente a forma como nos comunicamos, trabalhamos e consumimos serviços. O sistema público de saúde não pode ficar parado no tempo.

No início do mês, o Ministério da Saúde apresentou ao Novo Banco de Desenvolvimento — o banco do BRICS — um projeto para a construção do primeiro hospital inteligente do Brasil, que aguarda análise para receber um financiamento de 320 milhões de dólares.

Se sair do papel, será um marco. A inteligência artificial aplicada ao SUS tem potencial para revolucionar o atendimento público, trazendo mais eficiência, segurança e redução de riscos, como infecções hospitalares. É o tipo de avanço que a saúde pública brasileira precisa para dar um salto de qualidade.

O projeto prevê um hospital com 150 mil metros quadrados, em São Paulo, seguindo padrões internacionais de sustentabilidade e segurança. A arquitetura será pensada para se adaptar ao clima, garantir eficiência energética e proporcionar mais conforto a pacientes e profissionais. Além disso, toda a logística interna será planejada para que a unidade possa ser ampliada em situações emergenciais, como pandemias ou desastres.

Mas o prédio, por si só, não é suficiente. O verdadeiro diferencial está na tecnologia. Telessaúde, automação hospitalar, inteligência artificial e prontuários eletrônicos são ferramentas capazes de destravar gargalos históricos do SUS, como o mau uso de leitos e os atendimentos lentos e desorganizados.

O Brasil tem um número relativamente alto de médicos por habitante — 2,81 por mil. O problema está na má distribuição: há regiões com excesso de profissionais e outras praticamente desassistidas. E é justamente aí que a tecnologia pode fazer a diferença.

Se o modelo de hospital inteligente for replicado, deve priorizar as áreas mais críticas, garantindo acesso onde hoje o SUS não consegue chegar. A telessaúde é um bom exemplo: com ela, um paciente de uma comunidade isolada pode ser atendido por um especialista a quilômetros de distância, sem precisar enfrentar filas ou realizar longas viagens. É um ganho real para quem mais precisa.

No entanto, não se pode ignorar o ponto central: inovação custa caro. O subfinanciamento crônico do SUS é um freio para qualquer avanço. Não adianta falar em inteligência artificial se faltam recursos para manter sequer o básico. É preciso modernizar, sim — mas com investimentos compatíveis com o tamanho do sistema e a urgência da demanda.

Outro aspecto positivo do projeto é a colaboração internacional. A proposta é que o hospital inteligente também funcione como um polo de intercâmbio entre gestores públicos, pesquisadores e profissionais de saúde do Brasil e dos países do BRICS. Essa parceria pode acelerar soluções que, sozinhos, levaríamos muito mais tempo para desenvolver.

SUS atende mais de 140 milhões de brasileiros. É um sistema gigante, complexo e com problemas históricos — mas também é um patrimônio nacional. Se queremos que ele sobreviva e evolua, inovação não pode ser vista como luxo. É necessidade.

*Michel Goya é diretor da ABSS e CEO da OPME Log.

Fonte: Saúde Business