Um estudo feito no Reino Unido mostra que a semana de quatro dias é, sim, possível. India Burgess trabalha numa empresa envolvida na pesquisa global sobre os benefícios de uma semana não com cinco, mas com quatro dias de trabalho.
“Meus amigos tão sempre estão com muita inveja. Muitos perguntam quando isso vai começar na empresa deles, um período interessante pra pensarmos sobre nossas carreiras e a relação com o trabalho”, relata India.
A pesquisa feita no Reino Unido mostra que, pra algumas áreas, o debate tá aberto. O teste foi assim:
Durante seis meses, mais de 60 empresas britânicas continuaram pagando 100% do salário para os funcionários trabalharem 80% da carga horária – um dia por semana a menos.
Deu tão certo que, mesmo com o fim do teste recentemente, 91% das empresas decidiram seguir com o esquema.
Trabalhadoras e trabalhadores relataram que, nesse período:
Saúde e sensação de bem-estar melhoraram muito;
Tiveram mais tempo pra fazer atividade física;
Disseram estar mais satisfeitos com o trabalho e com a vida em geral – menos estressados, ansiosos;
Economizaram um dinheiro, em média, quase 300 libras por mês – cerca de R$ 1,6 mil;
Passaram a gastar menos, por exemplo, com transporte e creche pros filhos, já que podiam ficar com as crianças um dia a mais.
Mas o que mais chamou atenção nesse teste foi a vantagem pras empresas.
Os funcionários passaram a faltar menos ao trabalho – por licença médica ou qualquer outro motivo. E o principal e mais surpreendente: o faturamento das empresas aumentou. Funcionários mais descansados rendem mais.
O teste deu uma movimentada no mercado de trabalho britânico.
“A pandemia levantou perguntas sobre o trabalho. Estamos habituados a pensar que quanto mais tempo você trabalhar, mais produtivo você é. Esse é um jeito antigo de se pensar, que herdamos dos últimos 50 anos. Então agora precisamos nos questionar: isso é verdade?”, destaca Will Stronge.
Os pesquisadores disseram que os resultados até agora mostram que o esquema funciona em escritórios de diferentes tamanhos e em negócios de vários setores – ONGs, restaurantes, empresas de construção, manufatura.
A situação no Brasil
No Brasil, há um mês, o setor administrativo de um hospital de São Paulo começou a trabalhar só de segunda a quinta.
“No começo a gente fala: ‘como eu vou colocar cinco dias de rotina dento de quatro dias?’ Então, conforme você vai dialogando com os fornecedores, eles já sabem que eu não trabalho em dia de sexta”, diz o gestor de compras Wilson de Souza.
O hospital faz parte de um grupo de 21 empresas e instituições brasileiras que participam da pesquisa global sobre a semana de quatro dias.
“A gente já teve uma fase de inscrição e a gente está nessa fase de planejamento, com aulas, com trocas, com assessoria jurídica. Então, a gente, junto com a empresa, vai co-criar qual o melhor formato para cada uma delas”, destaca Renata Rivetti.
As empresas envolvidas no estudo têm autonomia para decidir em que dia da semana os funcionários vão folgar – nem sempre é sexta.
O diretor do hospital, Eduardo Hagiwara, explica que decidiu participar depois de notar que os funcionários estavam particularmente cansados desde o início da pandemia.
“As faltas diminuíram, os atrasos diminuíram, o foco no trabalho também melhorou muito. As entregas melhoraram muito”, relata Eduardo.