As fortes chuvas que caíram durante o Carnaval deste ano no Litoral Norte de São Paulo provocaram uma série de deslizamentos, deixando ruas inundadas em meio à tragédia que já contabiliza mais de 40 mortos. Nos mesmos dias, outras cidades também registraram chuvas, como a capital, onde as enchentes não afastaram foliões que curtiram os blocos de rua ainda que por vias completamente alagadas. Mas, afinal, quais são os riscos para a saúde ao caminhar em enchentes?
As principais doenças conhecidas por terem maior risco de contaminação em águas de alagamentos são a leptospirose, gastroenterites, febre tifoide, hepatite A, tétano, entre outras. A mais famosa, leptospirose, é uma doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, eliminada principalmente pela urina de ratos.
Isso porque a transmissão ocorre por meio de contato da pele com a água e da lama contaminadas, não sendo necessária uma ferida para que o patógeno consiga infectar o organismo. A incidência da doença é rara, mas o quadro é grave. Os sintomas envolvem febre, dor de cabeça, dor na panturrilha, fraqueza, sangramentos na pele e mucosa e insuficiência renal.
Já as gastroenterites podem ser causadas por uma série de vírus ou bactérias que circulam em água contaminada. Por precisarem ser engolidos, é menos provável que as pessoas sejam infectadas enquanto caminham na água. Porém a falta de um cuidado depois pode deixar o indivíduo suscetível.
“As pessoas podem facilmente contaminar alimentos e bebidas se não lavarem bem as mãos após o contato com a água da enchente. Os sintomas mais comuns de gastro são vômitos, diarreia e cólicas estomacais que começam de seis a 72 horas após a infecção”, explica o professor de Controle de Doenças Transmissíveis da Universidade de Queensland, na Austrália, Simon Reid, em artigo sobre o tema para o site The Conversation.
A hepatite A é uma infecção viral que também é transmitida da mesma maneira que os patógenos causadores da gastroenterite. Por isso, é preciso evitar colocar a mão na boca ao andar por um alagamento. A doença acomete o fígado e provoca febre, mal-estar, falta de apetite, desconforto abdominal, urina escura e icterícia (pele amarelada).
Para essa forma de hepatite, porém, há como se proteger por meio da vacinação. De acordo com o calendário do PNI, o imunizante é recomendado no esquema de dose única, aos 15 meses de vida. Pode ser aplicado no máximo até a criança completar cinco anos, porém o quanto antes melhor. Na rede privada, é administrado em duas doses, aos 12 e 18 meses de idade, o que segue orientações das sociedades de pediatria e de imunizações.
Adultos que não foram imunizados, ou cujo exame de sorologia mostre que não têm anticorpos para o vírus da hepatite A, podem se vacinar, mas apenas na rede privada. Nesse caso, a imunização é feita em duas doses, com um intervalo de seis meses entre elas.
Já a febre tifoide, causada pela bactéria Salmonella Typhi, também provoca um quadro de diarreia, porém é mais grave caso não seja devidamente tratada. Isso porque em quadros mais severos podem ocorrer sangramentos e perfurações no intestino como complicações.
Porém, no Brasil, a incidência da doença é baixa, sendo endêmica apenas em determinadas regiões mais isoladas com precariedade de saneamento básico. Ela também é transmitida pela ingestão por água ou alimentos contaminados.
Há ainda o risco de ser contaminado com tétano ao andar em alagamentos, uma vez que é difícil observar onde se está pisando, o que favorece o risco de cortes em áreas infectadas. Além disso, Reid lembra no artigo que existem os “perigos físicos que causam ferimentos”, como o risco de tomar um choque caso uma fonte de eletricidade entre em contato com a água.
Por isso, as dicas dos especialistas são evitar andar em qualquer alagamento e, caso não seja possível, utilizar sapatos; jogar fora todo alimento que tenha entrado em contato com a água; tomar um banho após; lavar as mãos antes de ingerir qualquer comida ou colocá-la na boca e desinfetar qualquer ferida que tenha na pele.
Fonte: O Globo