A assessora de impressa Andréa Duarte, 52, procurou um posto de saúde da zona leste paulistana na última segunda-feira (18) para tomar a quarta dose da vacina contra a Covid-19.
A única disponível era a da Astrazeneca, cujo lote havia vencido em maio, mas está sendo aplicada após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizar a extensão do prazo de validade. Ela se recusou a tomar a dose vencida.
“Fui ao mesmo posto onde tomei as outras três doses da Pfizer. Eu até tomaria a Astrazeneca, mas uma vacina vencida já é pedir demais”, disse.
O marido da assessora, Ricardo Paulino, 53, também se recusou a tomar a vacina vencida. “A data de validade das vacinas é para ser respeitada”, afirma.
No dia 11 de abril deste ano, a Anvisa autorizou a prorrogação do prazo de validade de dezenas de lotes de vacinas da Astrazeneca, fabricados pela Fiocruz entre julho de 2021 e janeiro de 2022.
Com a mudança, a validade passa de seis para nove meses a partir da data de fabricação. Os lotes que estão sendo aplicados neste mês tinham prazo de validade inicial entre 2 de abril e 2 de maio.
A lista com todos os lotes que sofreram alteração pode ser consultada no site da Anvisa.
Testes regulares determinam a validade de uma vacina e também se é possível estender esse prazo, diz Celso Granato, infectologista especialista em Patologia Clínica da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial).
“A vacina vencida pode ser usada. O cálculo do prazo de validade é feito a partir de um processo de aceleração do tempo para estimar quanto o imunizante vai durar. É feito por meio da exposição da vacina a uma temperatura mais elevada, seguida de testes em laboratório para medir a eficácia”, diz Granato.
A empresária Leine Okoda, 50, e o seu marido, o produtor musical Cristiano Borges, 48, estão em busca de “qualquer vacina que não seja a Astrazeneca” para fugir de eventuais efeitos colaterais de uma quarta dose. Okoda afirma que o lote vencido e com validade prorrogada não é um fator determinante na busca.
“O problema é que tenho conhecidos que foram hospitalizados pela reação à vacina da Astrazeneca mesmo tendo tomado as doses anteriores da mesma fabricante. Nas primeiras doses, tiveram reações leves, mas na última foi muito forte”, afirma.
O casal embarca para os Estados Unidos em duas semanas e teme que sintomas leves similares aos da Covid-19 causados pela reação à vacina da Fiocruz possam estragar e até impedir a viagem.
Eles passaram por dois postos de saúde na zona oeste de São Paulo em busca de outras opções. Não encontraram. “Pelo jeito só tem Astrazeneca mesmo”, diz Cristiano.
O temor de uma reação fora do comum ao tomar a vacina vencida também foi um fator decisivo para Andréa. Ela ressalta que acredita na ciência e que as pessoas devem se vacinar, mas que a falta de informação sobre se havia algum risco em tomar uma vacina vencida a fez ter medo de morrer. “E se me causasse um infarto? Não sabemos se os efeitos colaterais de uma vacina fora do prazo são iguais aos das outras. “Será que se eu tomar uma vacina vencida ela me protegerá mesmo?”
O infectologista da SBPC diz que sim, a vacina protegerá. É comum que farmacêuticas solicitem às agências reguladoras a prorrogação do prazo de validade de vacinas após terem resultados de novos testes que indiquem haver maior resistência dos imunizantes do que o previsto.
Além disso, de forma geral, os principais efeitos das vacinas contra Covid utilizadas no país são dor no local da aplicação, sensação febril, mal-estar, dor no corpo e quadro gripal.
Normalmente, esses sintomas desaparecem em até 24 horas, no máximo podendo durar dois dias.
De acordo com a bula dos imunizantes, a maior parte desses sintomas mais leves pode ser sentida em torno de 10% daqueles que utilizam os medicamentos.
Fonte: Folha de São Paulo