Quando alguém compra um remédio, faz um exame de sangue, é consultado por um dentista ou realiza um raio-X movimenta, sem saber, um setor que é responsável por 14% dos empregos de Rio Preto. São médicos, enfermeiros, dentistas, farmacêuticos, psicólogos, fisioterapeutas e até costureiras que trabalham em um dos setores que mais empregam os rio-pretenses.
Na segunda reportagem da série especial ‘A força da saúde’, o Diário mostra a importância do setor para a economia da cidade. Seja através do mercado de trabalho ou movimentando a economia da cidade com a atividade de clínicas, farmácias e do comércio.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, apontam que do setor de serviços, a saúde é a que mais emprega na cidade. Do total de 139.942 trabalhadores com carteira assinada atualmente, 70.101 atuam com serviço e 19.811 trabalham na área de saúde (14,1%). Isso sem contar outros profissionais que também atuam indiretamente para o setor, seja através da costura de jalecos até na alimentação dos profissionais.
Somente os hospitais de Rio Preto são responsáveis por empregar mais de 10 mil rio-pretenses. O equivalente à população de mais da metade das cidades do Noroeste Paulista. Para se ter uma ideia, a cidade contabiliza 8.289 profissionais da enfermagem, sendo 2.336 enfermeiros, 2.250 auxiliares de enfermagem e 3.703 técnicos de enfermagem.
Rio Preto também concentra 1.627 cirurgiões-dentistas e 239 auxiliares de saúde bucal, segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO). Além disso, a rede farmacêutica é composta por 1.194 farmacêuticos, de acordo com Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).
No ramo da medicina, as três faculdades da cidade fazem com que Rio Preto tenha uma das maiores concentração de doutores em relação ao número de habitantes. Dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) mostram que a cidade contabiliza 3.322 médicos.
É o caso de Marcela Rodrigues da Cunha Alvarenga, que está prestes a tornar-se médica. ‘Rio Preto tem um sistema de saúde que funciona. A organização do sistema em comparação a outras cidades é bom. Temos profissionais incríveis que fazem diferença na vida da população e do nosso aprendizado. Infelizmente temos carência de leitos e não conseguimos ajudar a todos como merecem’.
Natural de Uberaba (MG), ela conta que descobriu a fama de Rio Preto em saúde por meio de uma prima. Foi o que a motivou começar a pesquisar sobre a cidade e resolvesse vir estudar e atuar no município. ‘Nunca tive interesse de me mudar de lá, mas fiquei sabendo da cidade por causa de uma prima e comecei a procurar saber mais sobre a qualidade de vida que a cidade nos disponibiliza, não tive dúvidas de me inscrever no vestibular da Faceres. Qualidade de vida, segurança, infraestrutura e qualidade de ensino foram os principais quesitos que me levaram a prestar vestibular na cidade’.
Além dos próprios hospitais, mais de 500 consultórios isolados, 150 clínicas ou centros de especialidades e 100 unidades de apoio a diagnóstico e terapia ajudam a explicar os motivos da economia da saúde ser movimentada também através do setor.
‘A própria digitalização, investimento em pesquisa e inovação nos hospitais e as cirurgias robóticas acabam por atrair muita gente’, diz Leandro Freitas Colturato, presidente da regional de Rio Preto da Associação Paulista de Medicina (APM).
Além disso, alguns serviços só se encontram por aqui. Rio Preto, por exemplo, é a única cidade do interior do País a ter transplante de pulmão, já que os outros centros estão localizados em capitais como São Paulo e Porto Alegre. Além disso, boa parte dos exames de rotina da rede pública regional é feita em Rio Preto.
Turismo de saúde
Outro ramo que vem crescendo nos últimos anos e movimenta a economia rio-pretense é o do turismo de saúde. A cidade tornou-se um polo de negócios de medicina, com eventos e congressos que movimentam a economia, hotéis, bares e restaurantes.
HOSPITAIS TÊM MEGAESTRUTURA
Uma espécie de cidade dentro de outra cidade. É assim que gestores hospitalares definem a estrutura dos hospitais de Rio Preto. Somadas, as oito grandes instituições da cidade são responsáveis pelo preparo de 10 mil refeições diariamente. Somente no complexo hospitalar Funfarme, composto pelo Hospital de Base e Hospital da Criança e Maternidade, são servidas em média, por dia, 5.847 refeições.
Lá, além de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, também trabalham profissionais da costura, limpeza, segurança e do setor administrativo. No HB, por exemplo, existem costureiras contratadas apenas para confeccionar as roupas utilizadas pelos colaboradores da instituição.
Isso porque a estrutura do hospital vai além das consultas e cirurgias. Também envolve outros setores como de tecnologia da informação, que passou a ganhar espaço nos hospitais a partir do avanço da telemedicina, durante o pico da pandemia de Covid-19.
Contudo, a saúde rio-pretense ainda encontra entraves com a falta de profissionais em algumas áreas. ‘Na área de enfermagem, informática e de pediatria faltam profissionais qualificados’, diz Waldemar Brentan, presidente do Hospital Beneficência Portuguesa de Rio Preto.
Problema parecido com o enfrentando por outros hospitais, como o complexo hospitalar Funfarme. ‘Temos bastante dificuldade por falta da qualificação que queremos. Hoje estão faltando no mercado profissionais com treinamento e humanização’, apontou o diretor executivo da Funfarme, Jorge Fares.
Gestores também dizem que, com o crescimento da rede hospitalar e do envelhecimento da população, cresceu a procura por profissionais de saúde não apenas nos hospitais, mas também de forma particular. Ao mesmo tempo, a crescente procura por cursos de saúde não dá conta de suprir tanta demanda.
No Hospital Adolfo Bezerra de Menezes, a dificuldade de contratação é ainda maior pela especificidade do atendimento. ‘Além da própria dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, é difícil também contratar profissionais de enfermagem e psiquiatria. Os motivos são diversos, porém os mais encontrados são por se tratar de um serviço especializado e o tratamento focado em psiquiatria. Os profissionais não apresentam perfis e muitos não se interessam em atuar nesta área’, ressaltou Misleine Fagundes Jaco, administradora do hospital.
Lições da pandemia
Para Mario Jabur Filho, médico cardiologista e um dos fundadores do Austa Hospital, a pandemia mostrou que além do incentivo à formação de profissionais de saúde, os hospitais precisam investir em unidades respiratórias. ‘Eu acho que aprendemos que precisamos ter uma unidade respiratória, independentemente do coronavírus. O futuro exige isso da gente’.
Fonte: Panorama Farmacêutico