Desde o início do ano, quando o apresentador Tiago Leifert e a jornalista Diana Garbin revelaram que Lua, filha do casal então com 1 ano e 3 meses, havia sido diagnosticada com retinoblastoma, o câncer ocular mais comum na infância, pais e mães ligaram a luz de alerta para a saúde ocular de seus filhos. Mas além do oftalmologista, quais outras consultas são relevantes na infância?
É importante que os pais fiquem atentos aos sintomas que podem aparecer e mantenham as consultas médicas em dia. Assim como os adultos, as crianças precisam verificar regularmente como anda a saúde. A seguir, saiba quais outros exames são fundamentais para a prevenção de doenças e diagnóstico precoce.
CHECK-UP EM DIA
A rotina de exames laboratoriais de uma criança começa ainda na maternidade, com a realização do teste de triagem neonatal biológica, mais conhecido como teste do pezinho, que consiste na coleta de uma amostra de sangue retirada do calcanhar do bebê. “Obrigatório para todos os recém-nascidos e gratuito na rede pública, ele deve ser feito entre o 3.º e o 5.º dias de vida”, explica Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O teste, segundo o pediatra, avalia a presença de doenças como fenilcetonúria (doença do metabolismo), hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita. Desde o ano passado, uma lei foi sancionada para ampliar para 50 o número de doenças diagnosticadas pelo teste no Sistema Único de Saúde (SUS).
Há ainda outros exames realizados na maternidade antes da alta. O teste da linguinha verifica se a criança não tem língua presa; o do coraçãozinho, que avalia a saturação de oxigênio, testa a função cardíaca; o quadril avalia uma possível luxação congênita do quadril; e o de triagem auditiva identifica possíveis perdas na audição.
De acordo com o especialista da SBP, com 1 ano de idade a criança deve fazer a primeira coleta de sangue para avaliar os estoques de ferro (ferro circulante) e dosagem da ferritina (ferro em estoque). Se necessário, também podem ser solicitados testes de urina e fezes.
“Vale ressaltar que testes de glicemia e insulina também podem ser importantes para identificar diabete, especialmente se há casos da doença na família”, diz. Já em casos de antecedentes de dislipidemias (níveis elevados de lipídios, ou seja, gordura no sangue), será preciso avaliar o perfil lipídico. “Tudo vai depender das particularidades e individualidades de cada paciente”, afirma Fernandes.
CALENDÁRIO DE CONSULTAS
Para que os bebês cresçam e se desenvolvam bem, é preciso que os pais logo organizem o calendário de puericultura, área da pediatria que acompanha o crescimento, o desenvolvimento físico e motor, a linguagem, a afetividade e a aprendizagem cognitiva.
Segundo o pediatra Felipe Lora, diretor médico do Sabará Hospital Infantil, as consultas pediátricas podem ocorrer já na gestação, uma vez que se sabe que os primeiros mil dias de uma pessoa (período que vai desde a gestação até aproximadamente 2 anos) são cruciais para o resto de sua vida. “Portanto, hábitos da gestante influenciam o desenvolvimento do feto sob diversos aspectos, e orientações podem ser feitas acerca de riscos familiares, crescimento, desenvolvimento neurológico… até a melhor conduta no momento do parto e primeiros dias de maternidade”, afirma.
A primeira consulta após a alta da maternidade deve ocorrer entre 7 e 10 dias de vida. Depois, consultas mensais até os 6 meses. Dependendo do bebê, podem seguir mensais, mas, em geral, passam para bimestrais até 12 meses. Então trimestrais até 18-24 meses. E, a partir disso, semestrais até os 5 anos. Após essa ida, anuais, com atenção especial ao período da puberdade, quando uma observação mais próxima pode ser necessária.
Durante essas consultas, o pediatra acompanha dezenas de aspectos diferentes da criança, cada um deles com diversos pontos a serem verificados. Os principais se relacionam ao desenvolvimento neurológico, psicológico, motor e social, ao crescimento e ganho de peso, à alimentação e vacinação e ao funcionamento dos diversos órgãos do corpo.
“A história clínica e o exame físico são os principais aliados de um bom pediatra para fazer as triagens necessárias. Em cada fase o médico se atém a afastar as doenças de maior risco para a faixa etária. Por exemplo: a sustentação da cabeça aos 3 meses de vida, ou a pressão arterial aos 10 anos. É importante que esse acompanhamento seja bem-feito, pois é o que permitirá o melhor momento de encaminhamento a um especialista, como neurologista infantil no primeiro caso, ou a indicação adequada de um exame, como o Mapa, no segundo caso”, exemplifica Felipe Lora.
ESPECIALIDADES MÉDICAS
O diretor do Sabará afirma que, em geral, o pediatra basta para o acompanhamento rotineiro, podendo indicar subespecialistas (endocrinopediatra, nefropediatra, cardiopediatra, etc.) quando necessário.
O odontopediatra pode ser consultado a partir do aparecimento do primeiro dente, que deve ocorrer até o primeiro aniversário, para orientação de cuidados bucais. Antes disso, cabe ao pediatra orientar a higiene oral durante a fase de aleitamento.
Como rotina, o oftalmologista deve ser consultado em torno dos 3 a 4 anos. Cada criança pode ter indicação mais precoce conforme fatores de risco, como familiares doentes ou prematuridade.
No entanto, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o retinoblastoma – doença que acometeu a filha de Tiago Leifert – ocorre geralmente antes de a criança completar 5 anos, sendo que a maior parte dos casos é diagnosticada antes dos 2 anos. O principal sintoma é um reflexo brilhante no olho doente, parecido com o brilho que apresentam os olhos de um gato quando iluminados à noite.
As crianças podem ainda ficar estrábicas (vesgas), ter dor e inchaço nos olhos ou perder a visão. A doença, que se desenvolve na retina, pode afetar um ou ambos os olhos. Quando a descoberta é realizada precocemente, as possibilidades de cura chegam a 90% dos casos.
Para identificar o tumor, o teste do reflexo vermelho, também conhecido como teste do olhinho, é o primeiro passo. “É um exame simples, rápido, indolor e de baixo custo realizado em recém-nascidos com objetivo de detecção precoce de problemas congênitos que comprometem a transparência dos meios oculares e que podem impedir o desenvolvimento visual cortical”, explica Tadeu Fernandes, da SBP.
Fonte: Estadão