Uma série de ações voltadas para as Santas Casas e hospitais filantrópicos para o enfrentamento da covid-19 foi anunciada pelas esferas estadual e federal. Embora sejam medidas emergenciais, o fato é que as instituições filantrópicas do Estado de São Paulo, epicentro da doença no País, ainda aguardam a ajuda.
Em 31 de março, o governo estadual anunciou a liberação de R$ 100 milhões para 377 Santas Casas e hospitais filantrópicos ou municipais de pequeno porte. O recurso é fundamental para nossos hospitais poderem ajudar no combate à doença, mas ainda aguardamos o valor mensal de R$ 25 milhões que o governo se prontificou a enviar.
Cumprindo com a missão de maior parceiro do Sistema Único de Saúde (SUS), atendendo a mais de 50% da sua demanda, os hospitais filantrópicos já estão internando pacientes da covid-19 mesmo com a pendência de remuneração da diária de leito no valor de R$ 1.600 a ser liberada pelo Ministério da Saúde. Por outro lado, a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp) pleiteou na Secretaria Estadual da Saúde a equiparação do valor da diária para as instituições filantrópicas com o dos hospitais privados, que, segundo a pasta, deverão receber R$ 2.500 por dia de internação, o que também aguardamos.
Representamos em torno de 28 mil leitos para o SUS e quase 3 mil leitos de UTI. No Estado, ofertamos 953 leitos novos de UTI, mas o Ministério da Saúde só habilitou 117. Até 13 de maio, os hospitais filantrópicos paulistas tinham 713 pacientes em UTI e 1.178 pessoas contaminadas com o novo coronavírus em enfermarias. Na Grande São Paulo, essas instituições já trabalham com mais de 80% de sua ocupação, mas nenhum recurso anunciado chegou.
Será indesejável, sob todos os pontos de vista, neste momento difícil da pandemia, ver a rede de saúde ter os atendimentos atrofiados por insuficiência da rede filantrópica, que com mais de 50% dos atendimentos do SUS tem sido o esteio do atendimento de saúde da população.
Outro fato delicado diz respeito aos profissionais da linha de frente, que estão vivendo situação crítica no que se refere à sua proteção, mas mesmo assim continuam mantendo o atendimento aos pacientes. A escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) nos hospitais tem sido registrada pela Associação Médica Brasileira, que já recebeu 3,4 mil denúncias do tipo. Os relatos mais comuns são de falta de máscaras de proteção (86%), de protetores faciais (68%) e de aventais cirúrgicos (65%). Mais de 1/3 do total de denúncias é do Estado de São Paulo.
A carência faz as equipes improvisarem para não interromperem o atendimento, mas com isso aumentam as chances de contágio. Segundo o governo paulista, até 17 de abril cerca de 1.500 profissionais da saúde tinham se contaminado e estavam afastados do trabalho. Com os crescentes casos de covid-19, UTIs lotadas e profissionais de saúde tendo de se afastar, ficamos cada vez mais próximos da beira do precipício.
Nesse sentido, é necessário renovar aqui os pedidos já feitos tanto à Secretaria Estadual da Saúde quanto ao Ministério da Saúde, para que destinem EPIs aos hospitais filantrópicos com a máxima urgência. As doações recebidas pelo governo estadual podem também abranger os hospitais filantrópicos, sempre parceiros nos atendimentos do SUS.
As entidades filantrópicas trabalham sempre no vermelho, pois os valores repassados pelo SUS estão defasados há quase duas décadas. Agora, diante de uma das maiores, se não a maior, crises de saúde, isso só se agrava. Mesmo assim, essas instituições não medem esforços para fazer o melhor atendimento possível. Mas, como diz o dito popular, uma andorinha só não faz verão. É preciso dar condições para que as Santas Casas e os hospitais filantrópicos trabalhem.
*Edson Rogatti, diretor-presidente da Fehosp
Jornal O Estado de S. Paulo