Como equilibrar as contas, brecar o desperdício e oferecer mais qualidade nos serviços de saúde?
Uma estratégia é ampliar a cobertura da atenção primária no atendimento médico, dando assim os cuidados iniciais aos usuários, o que estimula a prevenção e evita custos desnecessários com exames.
Outras saídas são programas de qualidade, investimento em tecnologia e, nos planos de saúde, adoção de modelos de remuneração que não estimulem o uso excessivo de recursos.
Mudanças desse tipo são necessárias para enfrentar o desperdício, que chegou ao menos a R$ 27,8 bilhões em 2017, segundo dados mais recentes do Instituto de Estudo da Saúde Suplementar.
O valor representa quase um quinto (19,1%) de todas as despesas assistenciais (relativas a atendimento médico e tratamentos, basicamente) que as operadoras de saúde tiveram no mesmo ano (R$ 145,4 bilhões) e impacta diretamente nos reajustes dos planos.
“No setor de saúde, existe a dificuldade de mensurar desperdícios ou fraudes, mas o elevado crescimento das despesas assistenciais dá uma ideia de como as más práticas aumentam os custos”, diz Vera Valente, diretora da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar).
No ano passado, a despesa assistencial atingiu R$ 161,5 milhões, um aumento de 7,2% em relação a 2017, puxado por gastos com internações.
Para buscar eficiência, hospitais, prestadores de serviço e operadoras de planos estão substituindo o pagamento baseado nos serviços prestados (“fee for service”) por modelos que relacionem o custo de cada atendimento ao desempenho profissional e ao benefício ao paciente.
No pagamento por serviço, a conta é feita a partir de cada procedimento realizado (insumos, consultas, exames): a remuneração depende do volume de serviço e do material envolvido.
Uma mudança nesse modelo é essencial neste momento, mas desde que exista envolvimento de todas as partes do setor, pondera Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Ele explica que, pelo sistema atual, quanto mais pacientes contraírem pneumonia em ambiente hospitalar, melhor será para a receita do hospital. “O modelo privilegia a doença, e não a saúde do paciente, que deveria ser o foco principal”, diz. “Ao passo que, quanto mais eu investir em programas de qualidade e remunerar com base no desempenho, não haverá mais pneumonia para tratar”, compara Klajner.
O hospital tem metas para reduzir desperdício —até o de tempo. O programa de melhoria no fluxo de pacientes, por exemplo, padronizou processos e procedimentos e reduziu o tempo médio de permanência do paciente no hospital de 5 dias para 3,2 dias nos últimos sete anos. Com isso, aumentou o número de leitos disponíveis e a construção de um novo prédio foi evitada.
“A partir da análise de dados do prontuário eletrônico, também conseguimos prever com antecedência se o paciente ficará ou não internado, com mais de 90% de assertividade. Isso ajuda a ter o leito bloqueado, o que faz com que o tempo de espera caia em até uma hora e 20 minutos”, diz o presidente do Einstein.
Com o sistema de telemedicina, criado em 2012, o hospital incrementou as consultas em tempo real, que passaram de 197 para 440 por mês, e evitou que, em 98% dos casos, atendidos nas empresas em 2018, os pacientes tivessem que se deslocar para receber atendimento especializado.
No Sírio-Libanês, o monitoramento de pacientes do hospital e de 18 empresas permitiu a redução em até 50% da ida ao pronto-atendimento.
“São cerca de 130 mil pessoas acompanhadas de perto, com médicos que monitoram o paciente e seu quadro familiar”, diz Paulo Chapchap, diretor-geral do Hospital Sírio-Libanês.
O Banco Votorantim é uma das empresas que participa do programa Saúde Corporativa, do Sírio-Libanês. O ambulatório, que fica na sede do banco, completou um ano em março e tem foco na atenção primária, com médicos de família
O programa gerou reduções importantes de desperdício, principalmente relacionadas a exames complementares, consultas em pronto-atendimento e faltas no trabalho.
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Fonte: Folha de S. Paulo